4 Maneiras de Integrar Educação e Tecnologia

A tecnologia pode ter um impacto positivo na educação, mas isso não é automático. O uso da tecnologia por si só não é garantia de que a aprendizagem será melhor. Como as ferramentas tecnológicas são usadas é mais importante do que quais estão sendo usadas. O objetivo da integração tecnologia-educação não é meramente adaptar-se aos novos tempos, mas facilitar o processo de ensino-aprendizagem e levar o aluno a assumir responsabilidade pelo seu próprio aprendizado. Para isso, todo e qualquer conhecimento tecnológico precisa estar a serviço do conhecimento pedagógico e do conteúdo.[1] Então, de que forma podemos usar a tecnologia?

Ruben Puentedura, fundador e presidente da Hippasus, uma empresa que foca na aplicação da tecnologia à educação defende que a tecnologia nos permite a pensar de formas diferentes e a fazer coisas novas. Ele viu a necessidade de capacitar professores a criar, desenvolver e integrar experiências de aprendizagem digital que levam os alunos a altos níveis de desempenho, e por isso, criou o modelo SAMR. Esse modelo pode ser usado tanto para selecionar, usar e avaliar as ferramentas tecnológicas, quanto para revermos como temos ensinado e para planejarmos as próximas aulas. SAMR é um acrônimo para 4 maneiras de usar tecnologia na educação: substituição, ampliação, modificação e redefinição. As primeiras duas maneiras são melhorias no atual processo de ensino-aprendizagem, enquanto as outras implicam uma transformação na forma como ensinamos.[2] Vamos olhar para cada uma delas.

Na substituição, a tecnologia atua como um substituto direto, sem modificações funcionais. Neste caso, a aula e as tarefas continuam as mesmas, a única diferença agora é que estamos usando uma ferramenta tecnológica no lugar da ferramenta tradicional. Por exemplo, na produção de uma redação ou poema, em vez de rascunhar e escrever tudo à mão, com papel e caneta, os alunos vão passar a limpo, digitando no computador. Outros exemplos:

  • Em vez de entregar as tarefas fisicamente, elas podem ser entregues por email ou via plataforma de aprendizagem virtual.
  • Na apresentação de trabalhos, em vez de escrever no quadro ou usarem cartazes, os alunos podem fazer uma apresentação de slides.
  • Em vez de ler um livro de papel ou usar a biblioteca para fazer pesquisa, isso pode ser substituído por um ebook ou PDF, ou pela pesquisa em sites confiáveis da internet
  • Em vez de a discussão em grupo ser presencial, ela pode ser por uma chamada de vídeo ou fóruns de debate.

Embora essencialmente nada tenha mudado, através da substituição algumas tarefas se tornam menos pesadas e podem ser executadas mais facilmente.

Na ampliação, a tecnologia atua como um substituto direto, com algumas melhorias funcionais. Neste caso, a tarefa em si e o seu ideal de aprendizagem permanecem iguais, mas as tecnologias disponíveis facilitam o aprendizado. Em vez de simplesmente digitarem sua redação, os alunos podem usar as funcionalidades de um processador de texto para corrigir a gramática e a ortografia, editar em tempo real, criar diferentes versões do texto para fins de comparação, etc. A redação ainda é uma redação, mas devido ao uso das ferramentas tecnológicas, a aprendizagem foi ampliada. Outros exemplos:

  • Em vez de usar o quadro e canetão, o professor pode usar a interatividade de uma lousa digital.
  • Exercícios e provas em uma plataforma digital podem ser programados para corrigir as questões automaticamente, facilitando o trabalho do professor e dando um retorno mais rápido ao alunos.
  • Professores e alunos podem criar e catalogar uma biblioteca digital através da compilação de sites com as informações relevantes.

Na modificação, a tecnologia permite uma reestruturação significativa das atividades. Neste caso, o cerne da proposta pedagógica permanece o mesmo, mas a sua execução é modificada pela tecnologia. A diferença principal entre a ampliação e a modificação é que esta necessariamente vai usar ferramentas colaborativas que ajudam na construção e na socialização do conhecimento. Continuando com o exemplo, ao ser redigida em uma plataforma colaborativa como Google Docs, a redação pode ser revisada por colegas, sugerindo melhorias, antes de ser corrigida pelo professor. A redação não é mais apenas uma redação, pois a tarefa foi modificada para incluir a colaboração, críticas construtivas mútuas, aumento da clareza, múltiplas revisões, possibilitando um produto final teoricamente melhor do que seria possível sem a tecnologia. Outros exemplos:

  • Em vez de oferecer exercícios de revisão, os alunos podem criar de forma colaborativa uma página da wikipedia sobre o conteúdo.
  • Em vez de apresentar o trabalho, os alunos podem fazer um vídeo a partir dos seus slides e incluindo áudios das suas entrevistas.
  • Usar a sala de aula invertida, em que a tecnologia viabiliza a disponibilização dos conteúdos com antecedência para que o tempo de aula seja usado para discussão e tirar as dúvidas.

Na redefinição, a tecnologia permite a criação de novas tarefas, anteriormente inconcebíveis. Neste caso, além de construir em cima dos estágios anteriores, aproveitando o que eles têm de melhor, o uso intenso da tecnologia é visto como essencial, pois ela está presente na pesquisa, na produção colaborativa e na sua publicação. O que começou sendo uma redação é agora redefinido ao se tornar em um post no blog da escola, ou como fundamentação para um projeto mais complexo como um e-book, uma revista, uma série de podcasts ou roteiro para um vídeo. Outros exemplos:

  • Além de apresentar o trabalho em forma de vídeo, os alunos podem incluir exercícios interativos às suas apresentações.
  • Usar as redes sociais para pesquisa de conteúdo e ter interação direta com especialistas e criadores de conteúdo e avaliação.

Por um lado, o modelo SAMR é como uma escada, em que você começa por baixo, com a substituição e ampliação, e vai subindo através da modificação e redefinição, à medida que se sente mais à vontade com as novas tecnologias. Por outro lado, embora subir a escada possa trazer muitos benefícios, jamais se esqueça de se perguntar se a estratégia tecnológica escolhida vai de fato ajudar a alcançar os objetivos pedagógicos propostos, ou se o seu uso é um mero fim em si mesmo.

Raphael A. Haeuser
Coordenador do Didaquê
TeachBeyond Brasil

[1] Ver o texto Da Sobrevivência ao Sucesso no Ensino Online.

[2] Além das informações do site da Hippasus, este texto foi escrito com base nos seguintes videos:

 

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