EU E O MEU LUGAR NO MUNDO – Aprendendo a ser amado: a vida cristã e a fonte de identidade

Há muito a ser dito sobre a fé cristã: declaramos que Cristo é o Senhor de todas as coisas e único salvador de nossas vidas; reconhecemos seu poder e sua majestade, unimo-nos à Igreja Cristã em comunhão, para citar somente alguns dos pontos. Em termos pessoais, um dos impactos mais significativos da nossa fé é o que ela afirma sobre quem somos – e o que ela tem a dizer sobre isso é profundamente revolucionário.

Perguntar ‘quem sou eu?’ é uma exclusividade humana. Nenhuma outra criatura tem essa capacidade de reflexão. A resposta a essa pergunta reflete como nos enxergamos e orienta como nos expressamos no mundo, e revela o que forma a nossa identidade. Identidade é o entendimento do que nos faz sermos nós mesmos. É o entendimento mais profundo e central de como cada pessoa se compreende – ou seja, como respondemos à pergunta ‘quem sou eu?’. Por estar no centro do nosso ser, nossa identidade orienta nossas vidas, movendo nosso íntimo, nossas ações e pensamentos.

Toda a identidade é baseada em algo, um centro, uma fonte. É a partir desse ponto central que todas as outras facetas da vida são organizadas. Esse ponto pode ser um relacionamento (com cônjuge, com os filhos, com os pais), uma posição social, uma profissão. O que está nesse centro irá trazer consigo as suas próprias “regras do jogo”, dizendo como podemos ou não ser, nos comportar e pensar. Pense, por exemplo, em uma identidade focada em ser reconhecido como alguém agradável, que outras pessoas apreciam. O objetivo das ações e escolhas estará em agradar os outros e deixá-los felizes e satisfeitos. Assim, as opiniões dos outros influenciam e determinam decisões e ações, no exercício exaustivo de ser querido por todos.

Como seres humanos, acreditamos que uma determinada fonte de identidade, seja essa ou aquela, vai preencher os nossos anseios, responder às questões mais íntimas do nosso ser, trazer-nos segurança ou tranquilidade. Em última instância, o que desejamos é viver em uma realidade onde somos vistos, aceitos, apreciados – uma realidade em que somos amados. Diferentes fontes de identidade irão nos dizer: esse é o caminho para você encontrar esse amor que você deseja. Entre as inúmeras opções, vamos ouvir que se formos belos e talentosos, ou ricos e poderosos, seremos amados.

O que todas essas fontes de identidade afirmam é que precisamos provar que merecemos ser amados. Nesse caso, tudo começa em nós: nós fazemos as coisas certas, nós nos esforçamos, nós nos tornamos uma pessoa bela, ou poderosa, ou bem-sucedida, e então veremos se realmente merecemos o amor que tanto desejamos.

Com o Evangelho, essa lógica muda completamente. A obra de Jesus Cristo nos diz que: independentemente de quem somos, como nos parecemos, ou quais sejam os nossos hobbies ou preocupações, já somos amados. O amor que tanto desejamos já está disponível para nós, independentemente de quem somos. A Bíblia afirma: “Desta forma Deus manifestou o seu amor entre nós: ele enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele.” (1Jo 4:9). Em outras palavras, Deus Pai enviou Jesus Cristo para que o seu amor pudesse ser visto e compreendido na Terra — e, além disso, para que pudéssemos organizar nossas vidas em torno de Jesus e do seu amor. Não porque estávamos fazendo tudo certo, mas enquanto ainda éramos pecadores (Rm 5:8). Deus já nos amava, antes de que pudéssemos fazer qualquer coisa para merecer esse amor. O Senhor Jesus não esperou que nos tornássemos melhores para nos amar.

É a partir dessa verdade e por causa dela que somos chamados à vida cristã: porque Deus nos ama. Deus conhece todos os nossos pecados, vícios e erros, sabe de cada detalhe e de cada falha escondida. E ao invés de dizer: “Lide com os seus problemas e torne-se apresentável para mim”; Ele diz: “Eu vejo os seus pecados, e eu não vou deixar você se afundar neles, porque eu te amo.” Ele toma os nossos pecados, e coloca sobre os seus próprios ombros, na cruz, por amor a nós.

A vida cristã é então uma jornada em que aprendemos a responder a esse amor. É centrar a nossa identidade no amor que já é oferecido a nós e compreender que não precisamos mais trabalhar, nos esforçar, nos moldar para conquistar amor. Ao entender a profundidade desse amor, todas as outras coisas podem ser organizadas em torno disso. Responder a esse amor é então aprender a compreender quem somos em Cristo: amados.

O que Ele nos pede em troca desse amor? Que devemos aprender a amar ao Senhor, nosso Deus, com todo o nosso coração e amar aos outros como amamos a nós mesmos (Mt 22:37-40). Uma vida que se move em direção ao amor de Deus, para conhecer Ele e amá-lo. E a partir desse amor, amar outras pessoas.

É por isso que podemos afirmar que na identidade cristã, centrada no amor do Senhor, há liberdade: porque ao nos livrar da culpa do pecado, Cristo nos chama a amar. E o nosso chamado ao amor pode ser exercido na família, com amigos, nos nossos hobbies ou profissão, na igreja, na oficina, na loja, com os vizinhos ou com colegas de time. Podemos expressar esse amor na pobreza e na riqueza, quando alcançamos sucesso e quando enfrentamos fracasso, quando somos expansivos e falantes ou quando somos tímidos e quietos.

Aprender a ser amado é aprender a viver a partir da realidade do amor transformador de Jesus Cristo. É aprender que antes de qualquer coisa, já somos objeto do amor de Deus, um Pai maravilhoso que deseja um relacionamento conosco. É aprender que podemos confiar nesse amor e deixar que ele transforme os nossos dias, nossas atitudes, nossos desejos, para nos tornar capazes de amar como Deus nos pede para fazer.

 
Lili Reichow


Lili Reichow é obreira de L’Abri. Juntamente com o seu esposo Josué, eles iniciaram o trabalho de L’Abri Sul em Ivoti em 2023. Eles são pais do Benjamin. Antes de se mudarem para Ivoti, Lili e Josué trabalharam no L’Abri da Inglaterra por sete anos. Lili tem formação em Publicidade e Mestrado em Teologia.

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