Em nome dos que não têm voz, uma teologia da salvaguarda
Por Dr. Krish Kandiah
Com Justin Humphreys
Tradução: Arite Pessoa
Revisão Natalia Cartelli
Conteúdo
Parte 1: Em relação a uma teologia da salvaguarda p3
Parte 2: A teologia da salvaguarda p5
O Mandato p5
A Motivação p7
A Missão p8
Conclusão p9
Referências p10
Dr. Krish Kandiah
Um empreendedor social e teólogo, Dr. Kandiah é o diretor fundador da instituição de caridade Home for Good e é formado em missiologia e teologia. É um leitor honorário em teologia na Universidade de St Andrews, Escócia.
“Os cristãos em todas as organizações devem estar atentos ao que a Bíblia tem a dizer sobre a salvaguarda nas nossas diferentes áreas de trabalho e ministério se formos fiéis e eficazes. Estou animado que a thirtyone:eight esteja buscando fundamentar o seu trabalho vital em princípios bíblicos.” – Dr. Krish Kandiah
Justin Humphreys
Diretor Executivo Conjunto na Thirtyone:Eight, Justin também é coautor de “Escaping the Maze of Spiritual Abuse: Creating healthy Christian cultures” and the forthcoming ‘Just Leadership’ for SPCK.” É formado em serviço social, proteção infantil e gestão estratégica.
Documento versão 1,0 publicado 22.10.2020
A copia ou reprodução de parte deste documento é permitido e deve ser sempre mencionado a Thirtyone:eight como autor. A cópia ou reprodução completa deste material requer permissão escrita do editor. O uso desse material não deve ser entendido como endosso à politica ou prática de salvaguarda de uma organização
Thirtyone:eight 2020
Parte 1:
Rumo a uma teologia da salvaguarda
“Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar.”
Mateus 18:6 (NVI)
A salvaguarda nunca deve tornar-se sinônimo de um exercício burocrático obrigatório. A teologia nunca deve ser percebida como um passatempo empoeirado e irrelevante. Se estes estereótipos errados são aceitos, então uma teologia de salvaguarda dos riscos se desprende da realidade e é irrelevante para o nosso dia a dia.
A teologia é tão vital para a igreja quanto uma bússola é para os marinheiros numa tempestade. A salvaguarda é o verdadeiro norte de todo o serviço útil que a igreja tem para oferecer. Juntos, eles devem definir a direção de todo o ministério cristão: fundamentado em um mandato, uma motivação e uma missão.
A Escritura nos diz que, para se manter fiel ao seu curso divinamente dirigido, a igreja precisa do ministério baseado nas palavras dos apóstolos, mestres, pastores, profetas e evangelistas (Efésios 4:9-15). Entre as tempestades de distrações e dos ventos de tendências e modas inúteis, a igreja traça o seu rumo, em primeiro lugar e acima de tudo, guardando a Palavra de Deus, corretamente compreendida e devidamente aplicada, através de reflexão teológica, discernimento e percepção.
Entretecida em toda a Escritura cristã, a Santíssima Trindade recomenda ao povo de Deus uma preocupação especial: viúvas, órfãos e estrangeiros. Há mais referências diretas e indiretas para ajudar estes três grupos vulneráveis do que para o dízimo, a comunhão e o batismo. Na verdade, há mais de 2.000 referências a questões de justiça e injustiça na Bíblia, nas quais estão incluídos os princípios de salvaguarda. Cuidar dos que estão em perigo está incluído na lei mosaica no Antigo Testamento (Exodus 22:21-22), e no Novo Testamento torna-se a definição de religião autêntica (Tiago 1,27). O jejum genuíno envolve o compartilhar a comida com o faminto e a adoração aceitável que tem de incluir o providenciar abrigo para o andarilho (Isaías 58). De forma ainda mais evidenciada, na parábola de Jesus sobre as ovelhas e os lobos, a hospitalidade para com os vulneráveis é o que demonstra salvação (Mateus 25:31-46). Mesmo esta breve pesquisa teológica mostra que a salvaguarda está no coração das Escrituras.
A salvaguarda de crianças e adultos e a promoção do seu bem-estar estão consagradas na Convenção sobre os Direitos das Crianças das Nações Unidas (UNCRC), na lei do Reino Unido1 e na orientação estatutária que decorre destas, e descrevem o seguinte:
A proteção das crianças contra maus tratos, prevenção da deterioração da sua saúde e prejuízo no desenvolvimento, garantia de que vivam em circunstâncias consistentes com a prestação de cuidados seguros e eficazes e ações que permitem que todas as crianças tenham os melhores resultados2.
Proteger o direito de um adulto de viver em segurança, livre de abusos e negligência, com organizações e indivíduos trabalhando em conjunto para prevenir e evitar tanto os riscos e como a experiência de abuso ou negligência. Trabalhar em conjunto para prevenir e impedir tanto os riscos e como a experiência de abuso ou negligência. Ao mesmo tempo, garantir que o bem-estar do adulto seja promovido, incluindo quando apropriado, levar em conta as suas opiniões, desejos, sentimentos e crenças na decisão de qualquer ação, ao mesmo tempo que reconhece que os adultos, por vezes, têm relações interpessoais complexas e podem ser ambivalentes, pouco claros ou irreais sobre as suas circunstâncias pessoais3.
O Imperativo que os órgãos públicos e as instituições de todas as naturezas forneçam lugares seguros para que crianças e adultos vulneráveis possam florescer é completamente apropriado. Infelizmente, tem havido muitas situações em que indivíduos e instituições falharam em proteger os vulneráveis, como mostraram nos últimos tempos os vários inquéritos públicos independentes sobre o abuso institucional de crianças e uma série de outras áreas de injustiça nos quatro países do Reino Unido. O abuso foi descoberto no governo, nos esportes, na saúde, no negócio, do entretenimento e infelizmente também na igreja e em outros contextos de fé.
Uma vez que cuidar de pessoas vulneráveis está no centro das Escrituras, é uma desgraça que não só a igreja muitas vezes falhou em cuidar adequadamente, mas também permitiu que o abuso e a negligência se desenrolassem sob nossa vigilância. O próprio Jesus deu a mais severa das advertências àqueles que deixam de cuidar dos vulneráveis. Seria melhor para nós, ter uma grande pedra de moinho pendurada em torno de nossos pescoços e sermos afogados nas profundezas do mar, do que fazer tropeçar aqueles pequeninos que Jesus. (Mateus 18:6).
A igreja deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para atender a esta advertência e remover os obstáculos que impedem as crianças e outras pessoas vulneráveis de se beneficiarem da compaixão cristã. Ela deve empenhar-se intencionalmente e de todo o coração com a teologia e a salvaguarda, assegurando apoio a todo o ministério, à todas as pessoas e a criação de lugares seguros que elas esperam e merecem.
Uma teologia robusta de salvaguarda é um dom para a igreja. Como uma bússola inquebrável numa tempestade, nos mantém viajando em segurança na direção certa, sem desvios ou distrações.
Parte 2:
Uma teologia da salvaguarda
Fale em favor daqueles que não podem se defender;
garanta justiça para os que estão aflitos. Provérbios 31:8 (NVIP)
Thirtyone:eight, como organização, se comprometeu ao mandamento bíblico de Provérbios 31:8 para defender e cuidar daqueles que são ou podem ser vulneráveis. O mandato, a motivação e a missão da organização estão claramente fundamentadas, portanto, na fé cristã e nas Escrituras.
O livro de Provérbios foi concebido para oferecer ditados e frases memoráveis para ajudar a transferir sabedoria inspirada por Deus para o leitor. No entanto4, há mérito em verificar que este versículo reflete o quadro mais amplo do capítulo, do livro e da grande narrativa da Bíblia em termos de sua fundação como uma teologia da salvaguarda.
Provérbios 31:8 faz parte do conselho dado por uma mãe ao seu filho ao se tornar rei, no final do livro de Provérbios. Há aqui uma simetria, com o livro de Provérbios começando com conselhos de um pai-rei para o seu filho. Este belo inclusio retrata, do início ao fim do livro, tanto a família quanto o local de trabalho como a sala de aula para a transmissão da sabedoria. Mostra que ambos, homens e mulheres devem assumir a liderança e identificar o mandato, a motivação e a missão da sabedoria relacionados com a salvaguarda e a criação de lugares mais seguros.
O mandato:
Cada geração deve desempenhar o seu papel no cuidado de pessoas vulneráveis.
A motivação:
Cada líder deve perseguir o propósito e as prioridades de Deus para as pessoas vulneráveis.
A missão:
Todos os meios devem ser empregados para manter as pessoas vulneráveis seguras, ouvidas e notadas
O mandato: Cada geração deve desempenhar o seu papel no cuidado de pessoas vulneráveis
O livro de Provérbios termina como começou, com a sabedoria sendo passada de uma geração5 para a seguinte. Este modelo é preservado nas Escrituras para nos autorizar a ensinar a sabedoria de novo para cada nova geração. Há três considerações importantes para uma teologia da salvaguarda baseada neste mandato intergeracional.
1.1 Conexões Espirituais e Familiares
A mãe do rei Lemuel se dirige ao filho como fruto do seu ventre, mas também como resposta às suas orações. Ele é referido como meu filho, mas o seu nome Lemuel significa o que pertence a Deus6. Este paralelismo é instrutivo. As crianças são ao mesmo tempo um dom da natureza e da providência divina. Temos uma história de origem humana e divina. Todos os seres humanos têm ligações familiares e espirituais importantes.
Muitas vezes, as ligações familiares são subvalorizadas. Por exemplo, não é incomum que os cristãos bem-intencionados apoiem a institucionalização desnecessária de crianças em orfanatos ou aldeias de crianças que rompem suas ligações com as famílias de sangue. Às vezes o ministério dos jovens e das crianças presta pouca atenção à responsabilidade prioritária dada aos pais na formação e no bem-estar dos seus filhos. As conexões espirituais também podem ser subvalorizadas. O Ministério para as pessoas vulneráveis pode frequentemente concentrar-se exclusivamente na ajuda prática: fornecer comida para os famintos, ou apoio social para os solitários, por exemplo, em vez de adotar uma abordagem holística que inclua bem-estar espiritual e proteção contra danos.
1.2 Vítima/Sobrevivente e considerações sobre sua Voz
O professor em Provérbios encoraja o filho a ouvir. Em outro lugar no livro, as crianças são exortadas a resistir à loucura e buscar a sabedoria para si mesmas7. As crianças são incumbidas de um papel ativo no discernimento e na busca da sabedoria e de justiça para si mesmas8. É por isso entendemos que as crianças não são apenas receptores passivos de educação e informação, mas participantes ativos na transformação. As crianças têm agência. As opiniões das crianças devem ser ouvidas e respeitadas tanto quanto as dos adultos.
Esta é uma consideração importante para uma teologia da salvaguarda. Aqueles que são vulneráveis não devem ser vistos apenas como vítimas, mas como aqueles que possuem agência e que merece ser ouvidos. As vítimas e os sobreviventes devem ter as suas próprias oportunidades de tomada de decisão e, de fato, com a sua experiência única e pessoal, podem ser defensores eficazes dos outros e serem perseguidores da justiça e do direito próprio, se tiverem poderes para o fazer. Salvaguarda com este entendimento intergeracional apartir de Provérbios é uma parceria: não é algo feito aos vulneráveis, ou sobre eles, mas com eles9. Falar por eles e ao lado deles é, portanto, um princípio profundamente bíblico.
1.3 Proibições e Preocupações Positivas
A mãe do rei Lemuel assume a responsabilidade de incutir uma preocupação por aqueles que são vulneráveis, oprimidos e pobres na consciência e na imaginação do seu filho. Ela oferece uma crítica aos comportamentos negativos, mas também oferece atividades positivas para inspirar uma abordagem focada na solução das necessidades.
As Políticas de Salvaguarda e Procedimentos podem frequentemente ser vistos como documentos negativos que listam todas as coisas que não devem ser feitas e que procuram minimizar o risco. Esta pode ser uma das razões pelas quais a salvaguarda tem associações negativas na mente de muitas pessoas. Provérbios, ao equilibrar o proibitivo e o incentivado, oferece um modelo útil para enquadrar a salvaguarda nas conversas. Salvaguarda não é apenas garantir que as pessoas não sejam maltratadas, mas ela deve inspirar a igreja a se envolver em ações construtivas em seu favor para reduzir a vulnerabilidade e quaisquer riscos para elas. Precisamos de fatores de proteção contra danos e contra o tratamento negativo de todas as pessoas, mas também precisamos de fatores positivos que procurem encontrar formas de perseguir a justiça e o bem-estar para todos os envolvidos. Ambos os aspectos podem ter uma influência formativa e devem ser fatores-chave no ministério intergeracional. Nisto vemos tanto a necessidade de esforços preventivos como de responsivos para criar lugares mais seguros para todos.
A motivação: Todos os líderes devem perseguir o propósito e as prioridades de Deus para as pessoas vulneráveis
A sabedoria dada em Provérbios a um Rei desafia todos os líderes. A articulação inequívoca da Bíblia sobre a preocupação de Deus com as pessoas vulneráveis deve motivar os cristãos a levarem as responsabilidades de salvaguarda muito a sério, especialmente aqueles que estão em posições de poder, influência e responsabilidade. Há três implicações importantes para a liderança que vêm desta teologia do mandato de salvaguarda.
2.1 A natureza da liderança
O rei Lemuel é lembrado pela mãe que a liderança traz consigo a tentação de esquecer ou tirar vantagem dos vulneráveis. Em vez disso, ele deve usar essa posição de poder para falar e agir em nome daqueles que são vulneráveis. Este é um tema comum no ensino bíblico sobre liderança: é frequentemente explicado em termos de serviço. Por exemplo, Jesus depois de criticar a forma como muitos líderes usavam o seu poder para se engrandecerem, ele argumenta que, para os seus seguidores, a liderança tem a ver com o servir os outros, ao ponto de dar as suas vidas por aqueles que eles cuidam (Marcos 10:45).
A expressão de autenticidade na liderança também exige que os líderes tenham o desejo de procurar e alcançar uma compreensão profunda de si mesmos; suas falhas e desafios pessoais, bem como suas habilidades, dons e motivações (Salmo 139:23-24). Quaisquer áreas do caráter de uma pessoa que possam tornar-se negativas ou prejudiciais para com os outros devem ser tratadas de tal forma que as suas interações com os outros encorajem o altruísmo e o florescimento humano para todos.
2.2 A prioridade da liderança
O rei Lemuel, bem como os outros reis do Antigo Testamento, deveriam representar e imitar a Deus. No Salmo 68, Deus é descrito em termos de Seu poder e majestade, mas esta descrição não para por aí. Ela continua e inclui a sua preocupação com a segurança e o bem-estar das pessoas vulneráveis: Ele é pai dos órfãos, defensor das viúvas, e quem acolhe os solitários em família. (Salmo 68: 4 – 6) Este é o modelo para todos em posições de poder: ninguém é muito importante para cuidar dos vulneráveis10.
A liderança piedosa seguirá as prioridades de Deus e demonstrará o compromisso de buscar o dever de cuidar dos solitários, destituídos e vulneráveis. Como a liderança bíblica exige que o poder seja usado em nome dos mais necessitados, a salvaguarda deve ser um fator motivacional fundamental para todos os líderes cristãos, refletido na forma como usam o seu tempo, desenvolvem as suas políticas, tratam os que os rodeiam e constroem as suas igrejas, organizações, empresas ou comunidades.
2.3 O foco da liderança
A mãe do rei Lemuel faz algumas exigências rigorosas ao filho. Ele não pode viver como os outros ao seu redor. As tentações de um homem poderoso numa sociedade patriarcal, aqui indulgente com mulheres e álcool, não são apropriadas para a sua posição real. Seriam distrações do seu foco principal e chamado para cuidar daqueles que são vulneráveis.
Embora a salvaguarda seja frequentemente vista como uma função administrativa necessária, Provérbios 31:8 desafia os líderes a dar maior importância ao seu papel nas suas vidas e ministérios. Colocar as necessidades e os interesses das pessoas vulneráveis no centro do nosso ministério e missão garante que a salvaguarda se torne um elemento essencial e integral das nossas atividades mais amplas, em vez de apenas um complemento que pode ser atendido com uma ampla variação de compromisso.
Manter o foco na boa prática de salvaguarda no ministério pode permitir que os líderes resistam à tentação, persigam as prioridades de Deus e se dediquem firmemente ao trabalho de cuidar de todas as pessoas, especialmente aqueles que são vulneráveis.
A Missão: Todos os meios devem ser empregados para manter as pessoas vulneráveis seguras, ouvidas e percebidas
A sabedoria dada em Provérbios é muito prática e tem aplicação universal. Ao instruir os cristãos a pôr a fé em prática, a Bíblia reitera estes passos práticos de cuidar das pessoas vulneráveis e dos que estão em sofrimento. Há três aspetos funcionais importantes da aplicação da teologia da salvaguarda.
3.1 Defesa das pessoas vulneráveis
O rei Lemuel é ordenado a falar pelos que não têm voz. Este tema de defesa dos vulneráveis é repetido ao longo do livro de Provérbios. (Provérbios 29:7. Provérbios 22:22-23. Provérbios 21:13). Os destituídos, vulneráveis e oprimidos não devem ser esquecidos ou ignorados. A causa deles é a nossa causa.
Por toda a Bíblia, Deus está atento aos gritos dos pobres. Ele ouviu o sangue de Abel, que clamou da terra11, e os gritos do seu povo quando estavam em cativeiro12 ou exilados. Deus ordena que o Seu povo esteja igualmente atento aos gritos dos pobres. Mas isso deve levar à ação. A defesa de direitos é dar voz aos outros e às suas preocupações. Uma forma de o fazermos é fazer bom uso das nossas oportunidades e usar a nossa própria voz para falar em nome dos outros. Outra forma é dar uma plataforma aos outros, permitindo e dando condições de que a sua voz seja ouvida.
3.2 Defesa dos direitos das pessoas vulneráveis
O rei Lemuel é instruído a garantir que os processos legais devidos sejam aplicados aos marginalizados, oprimidos e vulneráveis. Sua posição como Rei na época, significava que ele estava colocado numa posição única para agilizar isso, mas o envolvimento com processos judiciais e legais está disponível para todos em uma sociedade democrática. Provérbios, tal como o resto da Bíblia, se recusa a permitir uma divisão sagrado-secular entre a responsabilidade que um líder tem perante Deus de cuidar dos necessitados e de se envolver em processos legais cívicos. Portanto, o envolvimento com processos legais ou políticos não é menos espiritual ou importante do que outros ministérios. Na verdade, é imperativo que eles andem de mãos dadas. Onde há políticas de salvaguarda em vigor numa nação, há boas razões para se envolver com elas e onde estes sistemas não estão protegendo adequadamente as pessoas vulneráveis, temos de procurar reformá-las através de um compromisso ativo e intencional com os que fazem as políticas.
3.3 Dignifique os destituídos
O Rei Lemuel deve falar e defender todos os que são vulneráveis. O objetivo deve certamente ser que todas as nossas comunidades recebam tratamento e proteção justos. Não podemos escolher entre pessoas ou grupos de pessoas com base nas nossas preferências ou preconceitos. A Bíblia ensina que devemos tratar todos com igual dignidade: Idosos e jovens, homens e mulheres, negros e brancos, família e inimigos13. Não devemos distinguir entre os chamados merecedores e não merecedores. Todas as crianças, todas as viúvas, todos os sem-abrigo, todos os que estão em situação de pobreza, todos os que não têm status elevado no nosso país, todos os que têm deficiência, todos os que são vítimas de discriminação sistêmica e social, todos os que não conseguem se alimentar ou falar por si próprios – quaisquer que sejam as razões e situações para as suas vulnerabilidades – devem ser salvaguardados e a base para a sua vulnerabilidade deve ser compreendida e, sempre que necessário, contestada ativamente.
Conclusão
A Bíblia nos dá um mandato, motivação e missão claros para garantir que aqueles que são ou podem ser vulneráveis sejam ouvidos, defendidos e tratados de forma adequada, eficaz, justa e compassiva. Nos nossos ministérios, educação, liderança, famílias e comunidades e nas atitudes e ações que sustentam os nossos sistemas e estruturas, temos de nos manifestar por eles. A nossa teologia deve ser trabalhada na melhor prática de salvaguarda para todos.
Provérbios 31: 1-9 (NVT)
Os ditados do rei Lemuel contêm esta mensagem,[a] que sua mãe lhe ensinou:
2 Meu filho, filho de meu ventre,
filho de meus votos,
3 não desperdice sua força com mulheres,
nem sua vida com aquelas que destroem reis.
4 Não convém aos reis, ó Lemuel, tomar muito vinho;
os governantes não devem desejar bebida alcoólica.
5 Se beberem, pode ser que se esqueçam da lei
e deixem de fazer justiça aos oprimidos.
6 O álcool é para os que estão morrendo,
e o vinho, para os que estão amargurados.
7 Que bebam para se esquecer de sua pobreza
e não se lembrar de suas dificuldades.
8 Fale em favor daqueles que não podem se defender;
garanta justiça para os que estão aflitos.
9 Sim, fale em favor dos pobres e desamparados,
e providencie que recebam justiça.
Referências:
1 | Neste contexto, a lei do Reino Unido inclui os vários Atos e Ordens nos quatro países: Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales, incluindo, mas não se limitando a: Children Act 1989, Children Act 2004, Care Act 2004, Adult Support & Protection Act (Scotland) 2007, Salvaguarda os Grupos Vulneráveis Act 2006, Protecting Vulnerable Groups Act (Scotland) 2007, Social Services and Well-Being (Wales) Act 2014 e as orientações estatutárias que apoiam as boas práticas nestas áreas. | ||
2 | Retirado do Working Together to Safeguard Children (July 2018), HM Government. (Página 5 e 6) | ||
3 | Retirado da Orientação Estatutária sobre Cuidados e Apoio (junho de 2020), Governo de Sua Majestade. Seção 14. | ||
4 | Porque o livro de Provérbios é o agrupamento da sabedoria internacional tem muito a oferecer àqueles que não reivindicam fé cristã e, portanto, é especialmente útil na sobreposição entre sagrado e secular no setor de salvaguarda. Como Dumbrell argumenta: “O movimento da sabedoria direcionou a sua atenção para o que a própria criação implicava para a conduta humana.” See Dumbrell, W. J., (1988) Faith of Israel: its expression in the books of the Old Testament, IVP, p. 228 | ||
5 | Por exemplo, veja Deuteronômio 6:1-3 para responsabilidade parental de passar a lei para a próxima geração. | ||
6 | Kidner, D., (2008) Tyndale Antigo Testamento Comentário: Provérbios, IVP | ||
7 | Provérbios 2:1-22 | ||
8 | Como Dunbar e Ngwa notam os provérbios fazem “apelos repetidos à criança para se empenhar na busca da sabedoria, para resistir aos atrativos da loucura, para embarcar em ações que garantam a justiça social, e que promovam uma postura religiosa e ideológica particular. ” Dunbar, E.S., & Ngwa, K.N. 2019), Children in Proverbs, Proverbial Children. In S. Betsworth & J.F. Parker (EDS.). T&T Clark Manual das Crianças na Bíblia e no Mundo Bíblico (pp. 131–154). Londres – T&T Clark. Página visitada em 24 de junho de 2020,, http://ezproxy-prd.bodleian.ox.ac.uk:2094/10.5040/9780567672568.ch-007 |
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9 | Em muitas partes dos países em desenvolvimento, as agências mundiais de ajuda e desenvolvimento capacitam as crianças e os jovens a desempenhar o seu papel na proteção das crianças. Veja, por exemplo, o programa de capacitação para a proteção infantil dos jovens adultos na Albânia. | ||
10 | Ramachandran, V., (2000) Faiths in Conflict, Downers Grove, IVP “ Entre os vizinhos de Israel, assim como nas culturas antigas do mundo… o poder dos deuses era canalizado através do poder de certos homens – os sacerdotes, reis e guerreiros que encarnavam o poder divino… Mas aqui, na visão rival de Israel, é com ‘o órfão, a viúva e o estrangeiro’ com quem Yahweh se coloca. Seu poder é exercido através da história para o empoderamento deles.” | ||
11 | Gênesis 4:1-10 | ||
12 | Exodus 2:23-25 | ||
13 | Ver Gênesis 1:27-28 e João 3:16-17 como exemplos da universalidade do amor de Deus. Todos são feitos à Imagem de Deus e Deus amou “o mundo” de tal maneira. | ||
Sobre nós
Há mais de 40 anos, a Thirtyone:Eight é a única instituição de caridade independente premiada que protege cristãos, que ajuda indivíduos, organizações, instituições de caridade, grupos de fé e comunidade a proteger as pessoas vulneráveis do abuso.
A nossa visão é um mundo onde todas as crianças e adultos podem sentir e estar seguros e, para alcançar esta visão, trabalhamos em conjunto com uma rede de milhares de organizações em todo o Reino Unido ajudando-os a criar espaços mais seguros.
Fornecemos formação, consultoria, DBS verifica uma linha de apoio de salvaguarda e apoio internacional de salvaguarda para garantir que todos estão equipados e capacitados com as ferramentas que precisam. Somos os principais especialistas na salvaguarda, trabalhando com o governo para informar a legislação e para promoção de padrões elevados na prática da salvaguarda
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