Atualizações TeachBeyond Brasil – Aconteceu e está por vir!

O TeachBeyond Brasil vive um momento de intensa atividade e expansão. Com iniciativas que envolvem cuidado com filhos de missionários, acampamentos, ações em escolas, encontros com líderes, formações e oficinas, o ministério segue fortalecendo sua missão de promover educação transformadora com base cristã. Confira a seguir os principais destaques das últimas semanas e os próximos eventos em andamento.

Ministério Gergelim

O Ministério Gergelim “nasceu com o propósito de ser uma rede de apoio e trabalho cooperativo entre pais, criando um espaço de discipulado, acolhimento, amor e cuidado para os filhos de missionários em idade pré-escolar. Entendemos que a jornada missionária traz muitos desafios — e um dos maiores é garantir que os filhos desses obreiros recebam a atenção e o suporte necessários durante a infância.”

Atuando na base do TeachBeyond Brasil, em Gramado, o Gergelim deseja tanto o desenvolvimento dos filhos, quanto o encorajamento dos pais missionários, “para que possam seguir firmes em seu chamado, sabendo que seus filhos estão sendo bem cuidados.”

Entre neste site para doar ou saber mais: https://teachbeyond.transforme.tech/doeagora/2060

 

Impulso – Acamp-Serra

Se você tem mais de 18 anos e está interessado em passar um final de semana com o Acamp-Serra, em Gramado, este anúncio é para você! O Impulso deste ano traz o tema Legado, e os preletores Paulo e Luiza Nazareth vão abordar esse assunto com a gente. Temos promoções para grupos de 6 pessoas e para gramadenses. Corra já e mobilize a juventude da sua igreja para estar conosco neste acampamento comemorativo dos 50 anos do Ministério Acamp-Serra!

Para se inscrever, acesse o link: www.linktree.com/acampserra

 

Gleidson e família

O ministério de Gleidson e família segue em desenvolvimento e crescimento em escolas da Serra Gaúcha a partir do MPC. Partindo de valores cristãos, as crianças e adolescentes ouvem e aprendem sobre temas cotidianos da vida, interagindo com jogos, dinâmicas e arte relacionadas ao tema gerador. Ore por estes alunos, pelas novas turmas que abriram suas portas ao evangelho de Jesus e por cada missionário e voluntário envolvido neste projeto!

 

Ministério de oração

O Ministério de oração comunica novo ciclo de orações conjuntas, às quartas-feiras, às 13:15 hs, horário de Brasília. O grupo se reúne online e você pode fazer parte desse momento precioso!

Acesse pelo link: https://meet.google.com/ccg-xafp-gzt

 

Beyond Borders

O ministério Beyond Borders em São Paulo teve a alegria de promover um encontro com líderes de organizações e ativistas que trabalham com refugiados na região. O encontro iniciou-se com um café da manhã com Howard Dueck e prosseguiu numa série de palestras e conversas nas quais líderes do TeachBeyond Global e parceiros ministeriais também puderam somar.

Com um total de 40 participantes, esse importante momento foi finalizado com uma palestra de Cléssios, no Seminário Betel Brasileiro. Muitos desafios, mas também muita alegria em participar desse encontro!

 

Oficina de improviso

Uma chamada especial para você que ainda acha que existem coisas muito difíceis de serem feitas: Gustavo Brocker convida para uma série de oficinas de improviso entre os meses de abril, maio e junho, na sede do TeachBeyond Brasil, em Gramado. Entre falar em público, dominar a arte do imprevisto e lidar com o nervosismo, você aprenderá a lidar com mais confiança quando esses momentos chegarem! Não perca!

 

Inspire 2025

Já estão abertas as inscrições para o Encontro Nacional e Orientação de Novos Membros TeachBeyond, que acontecerá neste ano, de 26 de outubro a 30 de outubro na sede do TeachBeyond, em Gramado. “Com o tema ‘Inspire’, este evento tem como objetivo criar um espaço de inspiração, integração e fortalecimento da identidade de todos que se unem a essa missão através da educação transformadora.”

Acesse já o site para garantir sua inscrição e saber mais sobre este evento: https://teachbeyond.transforme.tech//evento/inspire2025

 

Assembleia Geral do TeachBeyond Global

Aconteceu em meados de março/abril a Assembleia Geral do TeachBeyond Global. Neste ano, os líderes se reuniram no Uruguai e puderam também participar da cerimônia de formatura dos alunos de Teologia. Nas fotos abaixo você pode ver um momento especial da caminhada de oração com alguns membros do TeachBeyond Brasil.

Beyond Sports Camp

Está em movimento neste final de semana o Beyond Sports Camp na sede do TeachBeyond Brasil, em Gramado. O acampamento conta com 18 acampantes e 10 equipantes. Ore por este evento e pela equipe que o lidera!

 

Viagem da Polenta

Também aconteceu nestes dias a Viagem da Polenta, do Seminário Teológico de Gramado. Em parceria com diferentes igrejas na Serra Gaúcha, os alunos são convidados a experimentar e se envolver em uma realidade desconhecida de muitos brasileiros: algumas das cidades menos evangelizadas do nosso país. Ore por toda a infraestrutura, pelos desafios enfrentados e acompanhe em tempo real alguns momentos desse grupo de pessoas pelo Instagram do STG.

 

Um forte abraço, e que Deus abençoe a todos nós! 

Em nome dos que não têm voz, uma teologia da salvaguarda

Por Dr. Krish Kandiah 

Com Justin Humphreys 

Tradução: Arite Pessoa 

Revisão Natalia Cartelli 

 

Conteúdo 

Parte 1: Em relação a uma teologia da salvaguarda p3 

 Parte 2: A teologia da salvaguarda p5 

 O Mandato p5 

 A Motivação p7 

 A Missão p8 

 Conclusão p9 

 Referências p10 

 

 

Dr. Krish Kandiah

Um empreendedor social e teólogo, Dr. Kandiah é o diretor fundador da instituição de caridade Home for Good e é formado em missiologia e teologia. É um leitor honorário em teologia na Universidade de St Andrews, Escócia.

“Os cristãos em todas as organizações devem estar atentos ao que a Bíblia tem a dizer sobre a salvaguarda nas nossas diferentes áreas de trabalho e ministério se formos fiéis e eficazes. Estou animado que a thirtyone:eight esteja buscando fundamentar o seu trabalho vital em princípios bíblicos.” Dr. Krish Kandiah 

 

Justin Humphreys

Diretor Executivo Conjunto na Thirtyone:Eight, Justin também é coautor de Escaping the Maze of Spiritual Abuse:  Creating healthy Christian cultures” and the forthcoming ‘Just Leadership’ for SPCK.”  É formado em serviço social, proteção infantil e gestão estratégica. 

 

Documento versão 1,0 publicado 22.10.2020 

A copia ou reprodução de parte deste documento é permitido e deve ser sempre  mencionado a Thirtyone:eight como autor. A cópia ou reprodução completa deste material requer permissão escrita do editor. O uso desse material não deve ser entendido como endosso à  politica ou prática  de salvaguarda de uma organização  

Thirtyone:eight 2020 

 

 

Parte 1: 

Rumo a uma teologia da salvaguarda 

 

Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar.” 

Mateus 18:6 (NVI) 

 

A salvaguarda nunca deve tornar-se sinônimo de um exercício burocrático obrigatório. A teologia nunca deve ser percebida como um passatempo empoeirado e irrelevante. Se estes estereótipos errados são aceitos, então uma teologia de salvaguarda dos riscos se desprende da realidade e é irrelevante para o nosso dia a dia. 

 

A teologia é tão vital para a igreja quanto uma bússola é para os marinheiros numa tempestade. A salvaguarda é o verdadeiro norte de todo o serviço útil que a igreja tem para oferecer. Juntos, eles devem definir a direção de todo o ministério cristão: fundamentado em um mandato, uma motivação e uma missão. 

 

A Escritura nos diz que, para se manter fiel ao seu curso divinamente dirigido, a igreja precisa do ministério baseado nas palavras dos apóstolos, mestres, pastores, profetas e evangelistas (Efésios 4:9-15). Entre as tempestades de distrações e dos ventos de tendências e modas inúteis, a igreja traça o seu rumo, em primeiro lugar e acima de tudo, guardando a Palavra de Deus, corretamente compreendida e devidamente aplicada, através de reflexão teológica, discernimento e percepção. 

 

Entretecida em toda a Escritura cristã, a Santíssima Trindade recomenda ao povo de Deus uma preocupação especial: viúvas, órfãos e estrangeiros. Há mais referências diretas e indiretas para ajudar estes três grupos vulneráveis do que para o dízimo, a comunhão e o batismo. Na verdade, há mais de 2.000 referências a questões de justiça e injustiça na Bíblia, nas quais estão incluídos os princípios de salvaguarda. Cuidar dos que estão em perigo está incluído na lei mosaica no Antigo Testamento (Exodus 22:21-22), e no Novo Testamento torna-se a definição de religião autêntica (Tiago 1,27). O jejum genuíno envolve o compartilhar a comida com o faminto e a adoração aceitável que tem de incluir o providenciar abrigo para o andarilho (Isaías 58). De forma ainda mais evidenciada, na parábola de Jesus sobre as ovelhas e os lobos, a hospitalidade para com os vulneráveis é o que demonstra salvação (Mateus 25:31-46). Mesmo esta breve pesquisa teológica mostra que a salvaguarda está no coração das Escrituras. 

 

A salvaguarda de crianças e adultos e a promoção do seu bem-estar estão consagradas na Convenção sobre os Direitos das Crianças das Nações Unidas (UNCRC), na lei do Reino Unido1 e na orientação estatutária que decorre destas, e descrevem o seguinte: 

 

A proteção das crianças contra maus tratos, prevenção da deterioração da sua saúde e prejuízo no desenvolvimento, garantia de que vivam em circunstâncias consistentes com a prestação de cuidados seguros e eficazes e ações que permitem que todas as crianças tenham os melhores resultados2.  

 

Proteger o direito de um adulto de viver em segurança, livre de abusos e negligência, com organizações e indivíduos trabalhando em conjunto para prevenir e evitar tanto os riscos e como a experiência de abuso ou negligência. Trabalhar em conjunto para prevenir e impedir tanto os riscos e como a experiência de abuso ou negligência. Ao mesmo tempo, garantir que o bem-estar do adulto seja promovido, incluindo quando apropriado, levar em conta as suas opiniões, desejos, sentimentos e crenças na decisão de qualquer ação, ao mesmo tempo que reconhece que os adultos, por vezes, têm relações interpessoais complexas e podem ser ambivalentes, pouco claros ou irreais sobre as suas circunstâncias pessoais3. 

 

O Imperativo que os órgãos públicos e as instituições de todas as naturezas forneçam lugares seguros para que crianças e adultos vulneráveis possam florescer é completamente apropriado. Infelizmente, tem havido muitas situações em que indivíduos e instituições falharam em proteger os vulneráveis, como mostraram nos últimos tempos os vários inquéritos públicos independentes sobre o abuso institucional de crianças e uma série de outras áreas de injustiça nos quatro países do Reino Unido. O abuso foi descoberto no governo, nos esportes, na saúde, no negócio, do entretenimento e infelizmente também na igreja e em outros contextos de fé. 

 

Uma vez que cuidar de pessoas vulneráveis está no centro das Escrituras, é uma desgraça que não só a igreja muitas vezes falhou em cuidar adequadamente, mas também permitiu que o abuso e a negligência se desenrolassem sob nossa vigilância. O próprio Jesus deu a mais severa das advertências àqueles que deixam de cuidar dos vulneráveis. Seria melhor para nós, ter uma grande pedra de moinho pendurada em torno de nossos pescoços e sermos afogados nas profundezas do mar, do que fazer tropeçar aqueles pequeninos que Jesus. (Mateus 18:6). 

 

A igreja deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para atender a esta advertência e remover os obstáculos que impedem as crianças e outras pessoas vulneráveis de se beneficiarem da compaixão cristã. Ela deve empenhar-se intencionalmente e de todo o coração com a teologia e a salvaguarda, assegurando apoio a todo o ministério, à todas as pessoas e a criação de lugares seguros que elas esperam e merecem. 

 

Uma teologia robusta de salvaguarda é um dom para a igreja. Como uma bússola inquebrável numa tempestade, nos mantém viajando em segurança na direção certa, sem desvios ou distrações. 

 

 

Parte 2: 

Uma teologia da salvaguarda 

 

Fale em favor daqueles que não podem se defender;
garanta justiça para os que estão aflitos. Provérbios 31:8 (NVIP) 

 

Thirtyone:eight, como organização, se comprometeu ao mandamento bíblico de Provérbios 31:8 para defender e cuidar daqueles que são ou podem ser vulneráveis. O mandato, a motivação e a missão da organização estão claramente fundamentadas, portanto, na fé cristã e nas Escrituras. 

 

O livro de Provérbios foi concebido para oferecer ditados e frases memoráveis para ajudar a transferir sabedoria inspirada por Deus para o leitor. No entanto4, há mérito em verificar que este versículo reflete o quadro mais amplo do capítulo, do livro e da grande narrativa da Bíblia em termos de sua fundação como uma teologia da salvaguarda. 

 

Provérbios 31:8 faz parte do conselho dado por uma mãe ao seu filho ao se tornar rei, no final do livro de Provérbios. Há aqui uma simetria, com o livro de Provérbios começando com conselhos de um pai-rei para o seu filho. Este belo inclusio retrata, do início ao fim do livro, tanto a família quanto o local de trabalho como a sala de aula para a transmissão da sabedoria. Mostra que ambos, homens e mulheres devem assumir a liderança e identificar o mandato, a motivação e a missão da sabedoria relacionados com a salvaguarda e a criação de lugares mais seguros. 

 

O mandato: 

Cada geração deve desempenhar o seu papel no cuidado de pessoas vulneráveis. 

 

A motivação: 

Cada líder deve perseguir o propósito e as prioridades de Deus para as pessoas vulneráveis. 

 

A missão: 

Todos os meios devem ser empregados para manter as pessoas vulneráveis seguras, ouvidas e notadas 

 

O mandato:  Cada geração deve desempenhar o seu papel no cuidado de pessoas vulneráveis 

O livro de Provérbios termina como começou, com a sabedoria sendo passada de uma geração5 para a seguinte. Este modelo é preservado nas Escrituras para nos autorizar a ensinar a sabedoria de novo para cada nova geração. Há três considerações importantes para uma teologia da salvaguarda baseada neste mandato intergeracional. 

  

1.1 Conexões Espirituais e Familiares 

A mãe do rei Lemuel se dirige ao filho como fruto do seu ventre, mas também como resposta às suas orações. Ele é referido como meu filho, mas o seu nome Lemuel significa o que pertence a Deus6. Este paralelismo é instrutivo. As crianças são ao mesmo tempo um dom da natureza e da providência divina. Temos uma história de origem humana e divina. Todos os seres humanos têm ligações familiares e espirituais importantes. 

 

Muitas vezes, as ligações familiares são subvalorizadas. Por exemplo, não é incomum que os cristãos bem-intencionados apoiem a institucionalização desnecessária de crianças em orfanatos ou aldeias de crianças que rompem suas ligações com as famílias de sangue. Às vezes o ministério dos jovens e das crianças presta pouca atenção à responsabilidade prioritária dada aos pais na formação e no bem-estar dos seus filhos. As conexões espirituais também podem ser subvalorizadas. O Ministério para as pessoas vulneráveis pode frequentemente concentrar-se exclusivamente na ajuda prática: fornecer comida para os famintos, ou apoio social para os solitários, por exemplo, em vez de adotar uma abordagem holística que inclua bem-estar espiritual e proteção contra danos. 

 

1.2 Vítima/Sobrevivente e considerações sobre sua Voz 

O professor em Provérbios encoraja o filho a ouvir. Em outro lugar no livro, as crianças são exortadas a resistir à loucura e buscar a sabedoria para si mesmas7. As crianças são incumbidas de um papel ativo no discernimento e na busca da sabedoria e de justiça para si mesmas8. É por isso entendemos que as crianças não são apenas receptores passivos de educação e informação, mas participantes ativos na transformação. As crianças têm agência. As opiniões das crianças devem ser ouvidas e respeitadas tanto quanto as dos adultos. 

 

Esta é uma consideração importante para uma teologia da salvaguarda. Aqueles que são vulneráveis não devem ser vistos apenas como vítimas, mas como aqueles que possuem agência e que merece ser ouvidos. As vítimas e os sobreviventes devem ter as suas próprias oportunidades de tomada de decisão e, de fato, com a sua experiência única e pessoal, podem ser defensores eficazes dos outros e serem perseguidores da justiça e do direito próprio, se tiverem poderes para o fazer. Salvaguarda com este entendimento intergeracional apartir de Provérbios é uma parceria: não é algo feito aos vulneráveis, ou sobre eles, mas com eles9. Falar por eles e ao lado deles é, portanto, um princípio profundamente bíblico. 

 

1.3 Proibições e Preocupações Positivas 

A mãe do rei Lemuel assume a responsabilidade de incutir uma preocupação por aqueles que são vulneráveis, oprimidos e pobres na consciência e na imaginação do seu filho. Ela oferece uma crítica aos comportamentos negativos, mas também oferece atividades positivas para inspirar uma abordagem focada na solução das necessidades. 

 

As Políticas de Salvaguarda e Procedimentos podem frequentemente ser vistos como documentos negativos que listam todas as coisas que não devem ser feitas e que procuram minimizar o risco. Esta pode ser uma das razões pelas quais a salvaguarda tem associações negativas na mente de muitas pessoas. Provérbios, ao equilibrar o proibitivo e o incentivado, oferece um modelo útil para enquadrar a salvaguarda nas conversas. Salvaguarda não é apenas garantir que as pessoas não sejam maltratadas, mas ela deve inspirar a igreja a se envolver em ações construtivas em seu favor para reduzir a vulnerabilidade e quaisquer riscos para elas. Precisamos de fatores de proteção contra danos e contra o tratamento negativo de todas as pessoas, mas também precisamos de fatores positivos que procurem encontrar formas de perseguir a justiça e o bem-estar para todos os envolvidos. Ambos os aspectos podem ter uma influência formativa e devem ser fatores-chave no ministério intergeracional. Nisto vemos tanto a necessidade de esforços preventivos como de responsivos para criar lugares mais seguros para todos. 

 

A motivação: Todos os líderes devem perseguir o propósito e as prioridades de Deus para as pessoas vulneráveis 

 

A sabedoria dada em Provérbios a um Rei desafia todos os líderes. A articulação inequívoca da Bíblia sobre a preocupação de Deus com as pessoas vulneráveis deve motivar os cristãos a levarem as responsabilidades de salvaguarda muito a sério, especialmente aqueles que estão em posições de poder, influência e responsabilidade. Há três implicações importantes para a liderança que vêm desta teologia do mandato de salvaguarda. 

 

2.1 A natureza da liderança 

O rei Lemuel é lembrado pela mãe que a liderança traz consigo a tentação de esquecer ou tirar vantagem dos vulneráveis. Em vez disso, ele deve usar essa posição de poder para falar e agir em nome daqueles que são vulneráveis. Este é um tema comum no ensino bíblico sobre liderança: é frequentemente explicado em termos de serviço. Por exemplo, Jesus depois de criticar a forma como muitos líderes usavam o seu poder para se engrandecerem, ele argumenta que, para os seus seguidores, a liderança tem a ver com o servir os outros, ao ponto de dar as suas vidas por aqueles que eles cuidam (Marcos 10:45). 

 

A expressão de autenticidade na liderança também exige que os líderes tenham o desejo de procurar e alcançar uma compreensão profunda de si mesmos; suas falhas e desafios pessoais, bem como suas habilidades, dons e motivações (Salmo 139:23-24). Quaisquer áreas do caráter de uma pessoa que possam tornar-se negativas ou prejudiciais para com os outros devem ser tratadas de tal forma que as suas interações com os outros encorajem o altruísmo e o florescimento humano para todos. 

 

2.2 A prioridade da liderança 

O rei Lemuel, bem como os outros reis do Antigo Testamento, deveriam representar e imitar a Deus. No Salmo 68, Deus é descrito em termos de Seu poder e majestade, mas esta descrição não para por aí. Ela continua e inclui a sua preocupação com a segurança e o bem-estar das pessoas vulneráveis: Ele é pai dos órfãos, defensor das viúvas, e quem acolhe os solitários em família. (Salmo 68: 4 – 6) Este é o modelo para todos em posições de poder: ninguém é muito importante para cuidar dos vulneráveis10. 

 

A liderança piedosa seguirá as prioridades de Deus e demonstrará o compromisso de buscar o dever de cuidar dos solitários, destituídos e vulneráveis. Como a liderança bíblica exige que o poder seja usado em nome dos mais necessitados, a salvaguarda deve ser um fator motivacional fundamental para todos os líderes cristãos, refletido na forma como usam o seu tempo, desenvolvem as suas políticas, tratam os que os rodeiam e constroem as suas igrejas, organizações, empresas ou comunidades. 

 

2.3 O foco da liderança 

A mãe do rei Lemuel faz algumas exigências rigorosas ao filho. Ele não pode viver como os outros ao seu redor. As tentações de um homem poderoso numa sociedade patriarcal, aqui indulgente com mulheres e álcool, não são apropriadas para a sua posição real. Seriam distrações do seu foco principal e chamado para cuidar daqueles que são vulneráveis. 

 

Embora a salvaguarda seja frequentemente vista como uma função administrativa necessária, Provérbios 31:8 desafia os líderes a dar maior importância ao seu papel nas suas vidas e ministérios. Colocar as necessidades e os interesses das pessoas vulneráveis no centro do nosso ministério e missão garante que a salvaguarda se torne um elemento essencial e integral das nossas atividades mais amplas, em vez de apenas um complemento que pode ser atendido com uma ampla variação de compromisso.  

 

Manter o foco na boa prática de salvaguarda no ministério pode permitir que os líderes resistam à tentação, persigam as prioridades de Deus e se dediquem firmemente ao trabalho de cuidar de todas as pessoas, especialmente aqueles que são vulneráveis. 

 

A Missão: Todos os meios devem ser empregados para manter as pessoas vulneráveis seguras, ouvidas e percebidas 

 

A sabedoria dada em Provérbios é muito prática e tem aplicação universal. Ao instruir os cristãos a pôr a fé em prática, a Bíblia reitera estes passos práticos de cuidar das pessoas vulneráveis e dos que estão em sofrimento. Há três aspetos funcionais importantes da aplicação da teologia da salvaguarda. 

 

3.1 Defesa das pessoas vulneráveis 

O rei Lemuel é ordenado a falar pelos que não têm voz. Este tema de defesa dos vulneráveis é repetido ao longo do livro de Provérbios. (Provérbios 29:7. Provérbios 22:22-23. Provérbios 21:13). Os destituídos, vulneráveis e oprimidos não devem ser esquecidos ou ignorados. A causa deles é a nossa causa. 

Por toda a Bíblia, Deus está atento aos gritos dos pobres. Ele ouviu o sangue de Abel, que clamou da terra11, e os gritos do seu povo quando estavam em cativeiro12 ou exilados. Deus ordena que o Seu povo esteja igualmente atento aos gritos dos pobres. Mas isso deve levar à ação. A defesa de direitos é dar voz aos outros e às suas preocupações. Uma forma de o fazermos é fazer bom uso das nossas oportunidades e usar a nossa própria voz para falar em nome dos outros. Outra forma é dar uma plataforma aos outros, permitindo e dando condições de que a sua voz seja ouvida. 

 

3.2 Defesa dos direitos das pessoas vulneráveis 

O rei Lemuel é instruído a garantir que os processos legais devidos sejam aplicados aos marginalizados, oprimidos e vulneráveis. Sua posição como Rei na época, significava que ele estava colocado numa posição única para agilizar isso, mas o envolvimento com processos judiciais e legais está disponível para todos em uma sociedade democrática. Provérbios, tal como o resto da Bíblia, se recusa a permitir uma divisão sagrado-secular entre a responsabilidade que um líder tem perante Deus de cuidar dos necessitados e de se envolver em processos legais cívicos. Portanto, o envolvimento com processos legais ou políticos não é menos espiritual ou importante do que outros ministérios. Na verdade, é imperativo que eles andem de mãos dadas. Onde há políticas de salvaguarda em vigor numa nação, há boas razões para se envolver com elas e onde estes sistemas não estão protegendo adequadamente as pessoas vulneráveis, temos de procurar reformá-las através de um compromisso ativo e intencional com os que fazem as políticas. 

 

3.3 Dignifique os destituídos 

O Rei Lemuel deve falar e defender todos os que são vulneráveis. O objetivo deve certamente ser que todas as nossas comunidades recebam tratamento e proteção justos. Não podemos escolher entre pessoas ou grupos de pessoas com base nas nossas preferências ou preconceitos. A Bíblia ensina que devemos tratar todos com igual dignidade: Idosos e jovens, homens e mulheres, negros e brancos, família e inimigos13. Não devemos distinguir entre os chamados merecedores e não merecedores. Todas as crianças, todas as viúvas, todos os sem-abrigo, todos os que estão em situação de pobreza, todos os que não têm status elevado no nosso país, todos os que têm deficiência, todos os que são vítimas de discriminação sistêmica e social, todos os que não conseguem se alimentar ou falar por si próprios – quaisquer que sejam as razões e situações para as suas vulnerabilidades – devem ser salvaguardados e a base para a sua vulnerabilidade deve ser compreendida e, sempre que necessário, contestada ativamente. 

 

Conclusão 

 A Bíblia nos dá um mandato, motivação e missão claros para garantir que aqueles que são ou podem ser vulneráveis sejam ouvidos, defendidos e tratados de forma adequada, eficaz, justa e compassiva. Nos nossos ministérios, educação, liderança, famílias e comunidades e nas atitudes e ações que sustentam os nossos sistemas e estruturas, temos de nos manifestar por eles. A nossa teologia deve ser trabalhada na melhor prática de salvaguarda para todos. 

 

Provérbios 31: 1-9 (NVT) 

Os ditados do rei Lemuel contêm esta mensagem,[a] que sua mãe lhe ensinou: 

2 Meu filho, filho de meu ventre,
filho de meus votos,
3 não desperdice sua força com mulheres,
nem sua vida com aquelas que destroem reis. 

4 Não convém aos reis, ó Lemuel, tomar muito vinho;
os governantes não devem desejar bebida alcoólica.
5 Se beberem, pode ser que se esqueçam da lei
e deixem de fazer justiça aos oprimidos.
6 O álcool é para os que estão morrendo,
e o vinho, para os que estão amargurados.
7 Que bebam para se esquecer de sua pobreza
e não se lembrar de suas dificuldades. 

8 Fale em favor daqueles que não podem se defender;
garanta justiça para os que estão aflitos.
9 Sim, fale em favor dos pobres e desamparados,
e providencie que recebam justiça. 

 

 

Referências: 

1  Neste contexto, a lei do Reino Unido inclui os vários Atos e Ordens nos quatro países: Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales, incluindo, mas não se limitando a: Children Act 1989, Children Act 2004, Care Act 2004, Adult Support & Protection Act (Scotland) 2007, Salvaguarda os Grupos Vulneráveis Act 2006, Protecting Vulnerable Groups Act (Scotland) 2007, Social Services and Well-Being (Wales) Act 2014 e as orientações estatutárias que apoiam as boas práticas nestas áreas. 
2  Retirado do Working Together to Safeguard Children (July 2018), HM Government. (Página 5 e 6) 
3  Retirado da Orientação Estatutária sobre Cuidados e Apoio (junho de 2020), Governo de Sua Majestade. Seção 14. 
4  Porque o livro de Provérbios é o agrupamento da sabedoria internacional tem muito a oferecer àqueles que não reivindicam fé cristã e, portanto, é especialmente útil na sobreposição entre sagrado e secular no setor de salvaguarda. Como Dumbrell argumenta: “O movimento da sabedoria direcionou a sua atenção para o que a própria criação implicava para a conduta humana.” See Dumbrell, W. J., (1988) Faith of Israel: its expression in the books of the Old Testament, IVP, p. 228 
5  Por exemplo, veja Deuteronômio 6:1-3 para  responsabilidade parental de passar a lei para a próxima geração.     
6  Kidner, D., (2008) Tyndale Antigo Testamento Comentário: Provérbios, IVP     
7  Provérbios 2:1-22     
8  Como Dunbar e Ngwa notam os provérbios fazem apelos repetidos à criança para se empenhar na busca da sabedoria, para resistir aos atrativos da loucura, para embarcar em ações que garantam a justiça social, e que promovam uma postura religiosa e ideológica particular. Dunbar, E.S., & Ngwa, K.N. 2019),  Children in Proverbs, Proverbial Children. In S. Betsworth & J.F. Parker (EDS.). T&T Clark Manual das Crianças na Bíblia e no Mundo Bíblico (pp. 131154). Londres – T&T Clark. Página visitada em 24 de junho de 2020,, http://ezproxy-prd.bodleian.ox.ac.uk:2094/10.5040/9780567672568.ch-007     

 

 

 

9  Em muitas partes dos países em desenvolvimento, as agências mundiais de ajuda e desenvolvimento capacitam as crianças e os jovens a desempenhar o seu papel na proteção das crianças. Veja, por exemplo, o programa de capacitação para a proteção infantil dos jovens adultos na Albânia.   
10   Ramachandran, V., (2000) Faiths in Conflict, Downers Grove, IVP “ Entre os vizinhos de Israel, assim como nas culturas antigas do mundo… o poder dos deuses era canalizado através do poder de certos homens – os sacerdotes, reis e guerreiros que encarnavam o poder divino… Mas aqui, na visão rival de Israel, é com ‘o órfão, a viúva e o estrangeiro’ com quem Yahweh se coloca. Seu poder é exercido através da história para o empoderamento deles.”   
11   Gênesis 4:1-10   
12   Exodus 2:23-25   
13  Ver Gênesis 1:27-28 e João 3:16-17 como exemplos da universalidade do amor de Deus. Todos são feitos à Imagem de Deus e Deus amou “o mundo” de tal maneira.   
     
   

Sobre nós 

Há mais de 40 anos, a Thirtyone:Eight é a única instituição de caridade independente premiada que protege cristãos, que ajuda indivíduos, organizações, instituições de caridade, grupos de fé e comunidade a proteger as pessoas vulneráveis do abuso. 

A nossa visão é um mundo onde todas as crianças e adultos podem sentir e estar seguros e, para alcançar esta visão, trabalhamos em conjunto com uma rede de milhares de organizações em todo o Reino Unido ajudando-os a criar espaços mais seguros. 

Fornecemos formação, consultoria, DBS verifica uma linha de apoio de salvaguarda e apoio internacional de salvaguarda para garantir que todos estão equipados e capacitados com as ferramentas que precisam. Somos os principais especialistas na salvaguarda, trabalhando com o governo para informar a legislação e para promoção de padrões elevados na prática da salvaguarda 

Como podemos aproveitar a energia e o entusiasmo dos visitantes, mas ao mesmo tempo proteger comunidades especialmente vulneráveis?

É sempre muito bom ter visitantes, não é? A minha mãe costumava dizer: “É bom vê-los vir e é bom vê-los ir”! Um valor da nossa organização é a parceria, somos comprometidos em trabalhar juntos em unidade como uma família de fé. É maravilhoso que, como cristãos, façamos parte de uma comunidade global de irmãos e irmãs, seguidores de Jesus, que juntos fazem parte da missão contínua de Deus de transformar indivíduos e comunidades em tudo o que ele pretende.

Ao trabalhar dentro de uma organização global, como uma organização de caridade ou missão, as visitas presenciais são muitas vezes muito importantes para construir relacionamentos e aumentar a confiança e a consciência. Mas que considerações culturais e de salvaguarda precisamos refletir ao visitar projetos e parceiros, especialmente aqueles que estão em áreas com pobreza multidimensional? As pessoas que vivem nestes contextos são muitas vezes exemplos incríveis de hospitalidade, generosidade e simpatia. Ao mesmo tempo, estas comunidades podem ser particularmente vulneráveis, e a sua segurança e bem-estar podem ser afetados devido às muitas necessidades básicas não satisfeitas. Infelizmente, estamos todos cientes de exemplos quando os visitantes inadvertidamente ofenderam ou magoaram o anfitrião ou a comunidade que estão visitando. Às vezes, a falta de consciência de salvaguarda ou mesmo uma mentalidade de tipo salvador pode causar danos, quer a curto ou a longo prazo. Por exemplo, quando o visitante humilha um anfitrião recusando-se a comer a sua comida ou um grupo de adolescentes numa viagem de missão joga doces para as crianças na rua.

Então, como podemos fazer visitas boas, que mostram respeito pela dignidade e privacidade das pessoas e pelas suas normas culturais? Como podemos aproveitar a energia e o entusiasmo dos visitantes mas, ao mesmo tempo, proteger comunidades especialmente vulneráveis dos impactos negativos de atividades antiéticas ou pouco úteis? Como podemos nos comportar de uma forma que proteja as crianças dentro dos seus contextos? Por favor, leiam cuidadosamente estas considerações através da lente dos valores de humildade, excelência, amor e parceria.

ANTES DA VISITA

● Garanta que você tem o consentimento informado do seu anfitrião e da(s) pessoa (s) que você está visitando.
Examine a sua motivação e o propósito da visita. É para aprender e fazer parcerias de forma mais eficaz com os ministérios e assim construir relações para benefícios a longo prazo?
PESQUISE e aprenda informações adicionais sobre a cultura local, economia e história da comunidade que você está visitando.
● Pergunte se existem políticas e códigos de conduta que precisam de ser compreendidos ou assinados antes da visita. Isto é especialmente vital quando se visita escolas ou lares para crianças.
Aprenda a maneira apropriada de cumprimentar adultos e crianças, seja um aperto de mão ou uma reverência, levando em consideração também o sexo e idade.
● Em muitas culturas é apropriado trazer um presente quando visitar e em outras pode causar embaraço. Verifique o que seria apropriado e amável.

DURANTE A VISITA

● Por favor, lembre que você é visitante, por isso concentre-se em ouvir e aprender. Se precisar compartilhar as suas opiniões e ideias, faça-o depois da visita após um período de reflexão e ponderação dos impactos dessa opinião.
● Mantenha o tamanho do seu grupo pequeno para que seja menos intrusivo para os vivem na comunidade.
● Se quiser servir, pergunte ao anfitrião como pode fazer isto – evite dar a sua opinião! Nem todas as pessoas querem que a sua parede seja pintada!
● Pense nas necessidades de salvaguarda a longo prazo das crianças e mantenha limites apropriados e culturalmente considerados. Evite tocar ou pegar em crianças sem o consentimento prévio deles e/ou de seus pais. Evite dar presentes, incluindo doces, sem o consentimento prévio dos pais e do anfitrião.
● Seja amigável e sorria! As expressões faciais são facilmente lidas, por isso, evite expressões negativas.
O equilíbrio de poder com o corpo é vital. Evite se destacar sobre as pessoas, apontar, e gesticular alto e ser especialmente consciente com as crianças.
● Resista a tirar fotografias ou vídeos sem consentimento informado. Se for dada permissão, qualquer foto/vídeo tirada deve representar as pessoas, a sua cultura local e ambiente de uma forma digna, com bondade e com respeito.
● Se for dada permissão para publicar uma foto, vídeo ou informação, por favor, considere que a imagem e a informação sobre estas comunidades vulneráveis, especialmente crianças, estarão para sempre na internet e fará parte do seu rastro digital. Aqui estão algumas perguntas para se fazer antes de publicar:
o Tenho o CONSENTIMENTO INFORMADO das pessoas envolvidas?
o Como o post vai fazer a criança se sentir se ela o vir no futuro?
o Quais poderiam ser as consequências deste post? Por exemplo , poderia este post prejudicar uma oportunidade de uma bolsa de estudos ou de um emprego ou causar desconforto na comunidade?
o Há alguém no universo que não deveria ver isso sobre essa criança, agora ou em algum momento no futuro?
o Poderia um predador infantil usar isso de uma forma desagradável?
o O post trai a privacidade ou a confiança da criança?
o Qual é o seu verdadeiro motivo/objetivo/necessidade em publicar essa foto? É para o seu benefício ou para o benefício daqueles que estão no post?

Depois da bênção final,
● Uma resposta habitual depois de visitar áreas com fatores multidimensionais de pobreza é querer apoiar ofertando. Isso é maravilhoso! Mas é vital discutir os seus desejos com a liderança do projeto , uma vez que, por vezes, dar pode causar complicações e problemas a longo prazo. Garantir que você siga as leis de patrocínio e doação, bem como considerações culturais.
● Na maioria das culturas, você mostraria respeito e cortesia se enviasse uma carta de agradecimento, com fotos, se apropriado, para o projeto ou parceiro que visitou através do seu anfitrião.

Esperamos que estas dicas práticas de visita sejam úteis à medida que continuamos a proteger intencionalmente as comunidades e as crianças. Como seguidores de Jesus, queremos glorificar o Senhor em tudo o que fazemos e nos associarmos bem aos nossos irmãos e irmãs globais com humildade, amor e excelência.

Equipe Salvaguarda TeachBeyond

Leitura adicional:
Using images of children in the media | CRIN
bond-ethical-guidelines-for-collection-and-use-of-content.pdf
Why It’s Important to Be Cautious When Posting About Kids Online (verywellmind.com)

Educação como Missão

Como valorizar, respeitar e proteger as crianças nas postagens nas redes sociais?

Você consegue acompanhar?! O mundo digital de hoje é muito diferente do mundo digital de dez anos atrás, talvez de cinco anos também e… na verdade, provavelmente até do mês passado!  Então, será que o que funcionou no ano passado ou na última década é adequado hoje em dia no que diz respeito à salvaguarda de crianças nas postagens de redes sociais?

Sejamos honestos, todos nós adoramos ver um vídeo bonito de um bebé rindo ou ver fotos comemorativas da formatura de uma escola ou campeonato esportivo. Imagens como estas podem envolver todos trazendo grande alegria e são um prazer ver no feed. Parte da vida comunitária é celebrar as alegrias uns dos outros e testemunhar momentos felizes que, claro, envolvem muitas vezes as crianças. Isso é maravilhoso! Este artigo não é para negar isso, mas sim para ajudar a cada um de nós, individualmente, a ponderar e avaliar como podemos continuar a respeitar e a proteger as crianças quando postamos sobre crianças online no mundo digital de hoje. 

Vamos começar com duas perguntas:

  • Onde publicamos sobre crianças? Podemos publicar sobre os nossos próprios filhos ou estudantes em redes sociais, blogs, sites, anúncios promocionais, revistas ou em boletins informativos. 
  • Por que publicamos sobre crianças online?   As respostas podem incluir porque queremos compartilhar uma história positiva e feliz, sensibilizar para a situação de certas crianças ou compartilhar sobre o nosso ministério que envolve as crianças.  Todas genuinamente boas razões.  

No entanto, se formos honestos, pode haver momentos em que estamos destacando uma criança porque desejamos usar de maneira errada esta relação para nos engrandecer no nosso ministério ou para angariar recursos.  Recentemente, quando a Equipe de Salvaguarda do TeachBeyond realizou pesquisas sobre o motivo pelo qual quem está levantando sustento usam frequentemente imagens de crianças nos seus materiais promocionais, uma resposta repetida foi porque “as imagens das crianças vendem”.  Pensem sobre isso; “as imagens das crianças vendem”. Como é que isto pode ser feito de uma forma que proteja e respeite as crianças? 

Sarah estava num momento de adoração pessoal durante a capela da sua escola quando sentiu que alguém estava tirando foto dela sem autorização. Claro que, uma semana depois, uma foto dela com os braços estendidos cantando ao Senhor foi publicada em todos os materiais promocionais da escola. Muitas pessoas comentaram e logo ela foi vista como a “aluna cristã modelo” da escola. Inicialmente ela gostava da atenção, mas gradualmente, sentiu a pressão para continuar a “atuar” durante a capela. No seu período de adoração ela começou a sentir-se vazia e envergonhada. 

Talvez você não pense que o exemplo acima tem algo a ver com salvaguarda. Parece inocente, mas, no entanto, há algo mais profundo acontecendo. Em primeiro lugar, é sobre a privacidade de Sarah, porque a foto foi tirada sem permissão. É também sobre integridade e como podemos ser tentados a usar uma imagem para causar uma impressão ou melhorar a reputação da nossa organização ou ministério sem pensar nos impactos sobre a criança. 

Todos sabemos que, se postarmos sobre uma criança na esfera digital, ela estará lá para sempre como parte do seu rastro digital, mesmo que apaguemos a foto. A esfera digital não é apenas a Web aberta que todos nós podemos ver, mas também a Deep e a Dark Web onde o conteúdo perigoso e ilícito é armazenado.

( www.crowdstrike.com/cybersecurity-101)

Infelizmente, as informações das crianças também podem ser roubadas e exploradas, e as imagens das crianças podem ser manipuladas. Estamos ouvindo cada vez mais relatos de imagens de crianças serem editadas com IA numa imagem sexual abusiva para depois ser usada para chantagear a criança por dinheiro ou extorqui-la com outras ameaças.  

John ficou chocado quando recebeu uma mensagem privada no Instagram. Alguém tinha manipulado uma foto dele jogando futebol para uma foto dele abusando de uma menina. Isso era falso! Ele ficou horrorizado e imediatamente e passou mal no banheiro. Uma segunda mensagem apareceu pedindo 100 dólares, caso contrário a foto seria publicada em sua conta que foi pirateada. 

Curiosamente, as nossas crianças hoje têm muitas vezes mais consciência do mundo digital do que nós. A atriz famosa Gwyneth Paltrow, publicou uma imagem feliz com a sua filha adolescente no seu Instagram com milhões de seguidores. A filha respondeu nos comentários: “Mãe, já discutimos isso. Você não pode publicar nada sem o meu consentimento.  Joanne Orlando, investigadora de Crianças e Tecnologia, afirmou que “as crianças têm direito à privacidade. Esta é, na verdade, uma das Convenções dos Direitos da Infância… Os pais estão numa posição de detentores da identidade digital dos seus filhos e, devido a este papel temporário importante, é melhor errar por cautela. Isso significa cautela em termos do quanto da sua vida você está compartilhando, do que você adiciona ao vídeo, imagens e dos comentários que você faz.”1

Temos que assegurar que as crianças têm voz e que os seus direitos são respeitados e reconhecer os consideráveis desequilíbrios de poder que podem estar em jogo tanto na produção como no consumo de imagens de crianças. O acordo legal global, a Convenções dos Direitos da Criança das Nações Unidas (UNRCR), afirma no artigo 3 (parafraseado), “O melhor interesse da criança deve ser uma prioridade em todas as decisões e ações que as afetam” e no artigo 16, (parafraseado), “Toda a criança tem direito à privacidade.”2 No entanto, o nosso chamado de seguidores transformados de Jesus vai além do que é considerado apenas “legal”. As crianças são uma bênção e herança de Deus.  O nosso mandato bíblico e a nossa responsabilidade é valorizar e cuidar das crianças, com o objetivo de reduzir o risco de danos e garantir que as crianças possam vir até Ele sem obstáculos, como parte da missão contínua de Deus de transformar indivíduos e comunidades em tudo o que ele projetou.

Então, como podemos continuar a proteger bem as crianças e a respeitar a sua privacidade ao publicar online? Como podemos seguir considerações éticas, especialmente para crianças mais vulneráveis? Como podemos crescer na consciência em salvaguarda para o mundo digital de hoje? Aqui estão algumas dicas para pensar:

  • Vamos dar prioridade aos direitos e necessidades da criança. Mesmo que tenhamos o consentimento para publicar, isso é o melhor interesse da criança? Porque é que estou fazendo isto? Quem se beneficia?  O post trai a privacidade ou a confiança da criança?  
  • Vamos garantir que as comunicações online não causem mal. Será que compartilhar esta imagem ou informação sobre essa criança pode prejudicá-la de alguma forma, atualmente ou no futuro? Como o post vai fazer a criança se sentir se ela o vir no futuro?  Se os colegas da criança encontrarem o post, como eles poderiam usá-lo? Será que o post vai acrescentar pressão à criança para ser perfeito ou gabar-se?
  • Vamos garantir que obtemos o consentimento informado. Consentimento informado é a permissão que uma pessoa concede para ser fotografada, ou ter suas informações recolhidas, com pleno conhecimento de onde, quando, como e para que finalidade a imagem ou a informação serão usadas, e com o entendimento de que podem dizer “não” sem sofrer nenhuma consequência. O consentimento informado é a pedra angular ética do recolhimento e utilização de conteúdos. É muito mais do que apenas pedir a pais ou filhos que tiquem o campo “permissão de uso midia”. Requer diálogo significativo e trata-se de ouvir e permitir perguntas. Uma pergunta que temos que nos fazer é quando devemos começar a pedir consentimento informado das crianças, em vez de apenas dos pais? Algo sobre o qual todos nós precisamos pensar nos nossos contextos. 
  • Vamos garantir uma representação responsável. “Uma única história cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que eles são falsos, mas que eles são incompletos. Fazem com que uma história se torne a única história.3 (Chimamanda Ngozi Adichie) Fotos de crianças tristes e atingidas pela pobreza têm sido frequentemente usadas para ajudar a angariar fundos para instituições de caridade internacionais. Muitos agora se perguntam se imagens como estas têm promovido emoção à custa da compreensão – um fenômeno às vezes chamado de pornografia da pobreza. A pornografia da pobreza tem sido definida como “qualquer tipo de mídia, seja escrita, fotografada ou filmada, que explora a condição dos pobres para gerar a simpatia necessária para vender jornais, aumentar as doações de caridade, ou apoiar uma determinada causa.” 4 (Matt Collins) 

Finalmente, estamos, ou eu estou dando um bom exemplo como um adulto cristão no mundo digital? Será que a forma como interajo digitalmente glorifica a Deus e dou um exemplo positivo para os meus filhos? As crianças sob nossa responsabilidade, quer sejam ou não os nossos alunos, estão vendo a nossa relação com o mundo digital, e muitas vezes seguem o nosso exemplo.

Durante a sua infância, Petra via frequentemente o seu pai vendo sobre política nas suas redes sociais. O que o pai escreve é muito mais duro do que a maneira como ele fala. O pai muitas vezes compartilhava reels que zombavam de um político ou difamava um grupo de pessoas. Quando Petra questionou se a sua conduta online estava amando e glorificando a Deus, o seu pai disse que esse tipo de comportamento era normal, mas não pessoalmente. Petra começou a copiar o comportamento do seu pai e começou a compartilhar reels zoando de grupos com quem discordava e a tuitar mensagens negativas e cruéis. Um dia, ele foi chamado pelo diretor da escola por causa de postagens com conteúdo inflamatório sexista e discriminatório online. 

Como respondemos a isso? Aqui estão três ideias:

  • Em espírito de oração e crítica, avalie a sua própria conduta online e pergunte a outros que você respeita, o que eles pensam também. 
  • Verifique com o projeto ou escola onde você trabalha e leia o consentimento informado e certifique-se de que segue sempre as políticas de comunicação. 
  • Verifique as suas definições de privacidade em todas as suas contas, especialmente as relacionadas com as suas newsletters. Mas lembre-se – até perfis fechados podem ser printados e serem compartilhados.  Considere adicionar uma frase à sua newsletter, como: “Por favor, não partilhe esta newsletter sem permissão.”

Este é um assunto complicado, e reconhecemos que todos nós provavelmente cometemos erros não intencionais no passado, mas essa pode ser uma oportunidade maravilhosa para crescer, aprender e ganhar sabedoria. Louvamos a Deus porque Ele é todo sábio e justo e podemos pedir o Seu trabalho transformador nas nossas vidas enquanto procuramos refleti-lO na Sua força e na Sua glória. “Quem é sábio e compreensivo entre vós? Que eles o mostre com a sua boa vida, com ações feitas na humildade que vem da sabedoria.” (Tiago 3:13) Obrigado por fazer parte da salvaguarda global das crianças com o TeachBeyond.

Escrito pela Equipe de Salvaguarda TeachBeyond

Recursos citados:

  • Is social media damaging to children and teens? We asked five experts
  • A summary of the UN Convention on the Rights of the Child
  • Chimamanda Ngozi Adichie “O perigo de uma única história” TEDtalk 2009
  • Poverty Porn: Athe unethical way to ‘save’ the poor

Recursos adicionais:

Picture-Perfect PrivacyA Guide to Responsible Sharing of Your Kids’ Photos

Putting the people in the pictures first – Ethical guidelines for the collection and use of content (image and stories)

Helpful information and guidance on a range of key online safety topics