
Um dia para a Bíblia
Bíblia Sagrada: a obra mais importante já escrita! Pode parecer uma alegação ousada. Dependendo dos critérios, isso se discute, mas até os maiores opositores teriam dificuldade em fazê-lo. É inegável que é, hoje, o livro mais influente, o mais lido e, para o cristão, não é discutível que seja o mais importante.
É um fenômeno! Bem usada ou mal usada, é fortemente presente. Em grande parte do mundo, está nas casas dos intelectuais, dos fiéis, dos críticos, dos leitores, dos iletrados, dos que gostam e não gostam de ler, na rodoviária, na loja, na prefeitura… É uma pequena “biblioteca” presente até mesmo na casa de quem não possui nenhum outro livro, mesmo que permaneça acumulando pó na capa, na lombada ou no Salmo 91 — nas possíveis únicas páginas amareladas pelo tempo naquele exemplar — como se fosse um amuleto de proteção, com runas ilegíveis, mas poderosas contra perigos invisíveis.
Presente por 1300 anos nas igrejas através das mãos incansáveis dos copistas, e há mais de 500 anos transbordando das catedrais, capelas, templos e universidades para muitos lares cristãos após a invenção da prensa, continua sendo menos compreendida que provavelmente deveria, enquanto desafia essa lógica transformando milhares de vidas. Sua popularização e a popularização da alfabetização se amalgamam. No campo acadêmico, muito estudada, debatida, questionada e defendida desde bem antes de o cânon ser fechado, e continua misteriosa. Mesmo em um mar de visões e correntes de interpretação, a Palavra incontestavelmente alcança seu objetivo: revelar as obras de Deus, assim como o firmamento (Sl 19:1) — e, como este, se mostra infinita, mesmo cabendo em uma mão. Mensagem antiga e exaustivamente conhecida, e que continua se revelando inesgotável.
É a obra mais lida, traduzida e distribuída do mundo — não só o livro mais impresso, como também o primeiro do Ocidente[1]. Estima-se que ultrapasse 3 mil idiomas, em mais de 4 bilhões de exemplares impressos. Paradoxalmente, é também uma das obras mais proibidas, restringidas e confiscadas do mundo, sendo motivo de prisões, torturas e penas de morte a seus leitores. O Livro da Igreja repete a história dela própria: quanto mais censurada, mais se difunde e se traduz a novos povos [2]. Se “o sangue dos mártires rega a semente da igreja” [3], pode-se dizer que as páginas queimadas aquecem com mais força as impressoras e os corações dos missionários que as carregam aos confins da Terra. Até os céus e a Terra passarão, mas estas palavras permanecerão (Mt 24:35).
Não é um livro comum! Conviveu com outras importantíssimas obras da religião, mas nenhuma delas atravessou séculos influenciando tão numerosas culturas, artes, tradições e povos — e nenhuma tem uma construção tão improvável. Escrita em três continentes (África, Ásia e Europa), ao longo de 1600 anos, em três idiomas (hebraico, aramaico e grego), por cerca de 40 autores que viveram culturas distintas. Ainda assim, não há uma contradição sem resposta. A olhos humanos, nenhuma obra coesa deveria sair de um “berço caótico” como esse. É quase como uma mãe infértil gerando um filho da promessa — e Deus não se poupa em trazer filhos a mães virgens e inférteis, mostrando que Ele é quem faz o que o ser humano não poderia. Nessa perspectiva, começa a não soar estranho perceber na Bíblia um Escritor divino se expressando em mãos humanas. Não há outro termo para descrever esta obra que não “sobrenatural”, e, se pensarmos bem, é “natural” que o seja. A obra que, do Gênesis ao Apocalipse, revela e aponta para Cristo, de alguma forma haveria de se apresentar à humanidade como Ele também se apresentou: totalmente humano e totalmente divino! Assim é a Palavra: um testemunho do que a inspira.
Para o cristão, era de se esperar que esse evento cósmico colossal — o próprio Deus ter entregado em misericórdia palavras aos homens — recebesse ao menos um “dia”, mas isso, até onde se sabe, ocorreu mais tardiamente que a descoberta do Novo Mundo pelos europeus. A comemoração começou com os anglicanos em 1549 [4]. Entre os católicos, a Bíblia passou a ser celebrada no dia de São Jerônimo, o tradutor da Vulgata, em 30 de setembro — e dessa vertente vem o registro da primeira comemoração em solo brasileiro, em 1947. Através de missionários americanos e europeus, no âmbito protestante e evangélico, o mesmo acontece, mas com uma data alternativa: o segundo domingo de dezembro é o Dia da Bíblia, oficializado no calendário evangélico brasileiro e registrado como lei federal em 2001 (Lei 10.335/2001) [5]. A data, antes de tudo, serve para destacar a importância da Bíblia como livro sagrado para a cristandade, incentivar a leitura, a reflexão e a distribuição, e especialmente expressar gratidão a Deus pelo acesso à Sua Palavra. [6]
Para o mundo, uma obra de inegável relevância. Para o cristão, conhecer a Bíblia não é conhecer um mero manual de instruções, e lê-la não é só um deleite ou uma disciplina. É, através de palavras entregues por um Pai justo e amoroso, olhar para a própria natureza e perceber a falha, para então descobrir a misericórdia; é descobrir um Deus que não pode ser alcançado pelo braço mortal, mas que nos alcança em amor eterno; é descobrir a condenação, mas também o chamado ao arrependimento e o perdão em um Cristo que paga o doloroso preço em nosso lugar. É entender que Deus não só escreveu através dos seres humanos, mas se fez humano, demonstrando o tamanho e a natureza de Seu amor que vem em resgate. E entender que, nas palavras do Senhor, não há prisão, há salvação! Como entendeu também o salmista, quando proclamou: “Nunca me esquecerei dos teus preceitos, pois é por meio deles que me tens dado vida” (Sl 119:93 — NAA).
Que o Dia da Bíblia não seja só um dia de leitura, mas um lembrete de que o que Deus nos entregou com Sua Palavra é valioso — e é Graça ao nosso alcance.
Ticiano Castoldi
TeachBeyond
Ticiano é graduado em História pela UNIVATES e pós-graduado em Ensino em História e Geografia pelo Centro Universitário Barão de Mauá, ministra aulas no Seminário Teológico de Gramado e coordena o Conversando de Boinas, um ministério de produção de conteúdo e educação informal.
[1]CIDADE NOVA. Descubra a origem do Dia da Bíblia. Disponível em: https://www.cidadenova.org.br/editorial/inspira/3719-descubra_a_origem_do_dia_da_biblia. Acesso em: 25 nov. 2025.
[2] BELONI, Cris. “Dia da Bíblia: a origem da data e como as Escrituras influenciam o mundo”. Guiame. Disponível em: https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/dia-da-biblia-origem-da-data-e-como-escrituras-influenciam-o-mundo.html
[3] “Semen est sanguis Christianorum” (TERTULIANO, Apologeticum, 50, ca. 197 d.C.).
[4] PORTAS ABERTAS. Quando é comemorado o Dia da Bíblia? 8 dez. 2024. Disponível em: https://portasabertas.org.br/artigos/dia-da-biblia/
[5] BRASIL. Lei nº 10.335, de 19 dez. 2001. Institui o Dia da Bíblia. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10335.htm.
[6] SOCIDADE BÍBLICA DO BRASIL. Dia da Bíblia. Disponível em: https://www.sbb.org.br/dia-da-biblia.
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