LIBRAS e Inclusão: Um Compromisso com a Comunicação e o Amor ao Próximo

Você já teve contato com uma pessoa surda na rua ou em algum lugar público e percebeu que ela queria se comunicar, mas não conseguiu por causa da barreira linguística? Essa situação, infelizmente, ainda é comum no Brasil. A falta de conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) por grande parte da população faz com que muitos surdos vivam isolados, mesmo estando cercados de pessoas.
O Brasil reconhece oficialmente a Libras como meio legal de comunicação e expressão desde 24 de abril de 2002.[1] Esta data é celebrada anualmente como o Dia Nacional da Libras, e nos convida a refletir sobre a importância da inclusão e da acessibilidade comunicacional para as pessoas surdas.

Libras: mais que uma língua, uma ponte

A Libras é uma língua de fato e de direito: possui gramática própria, estrutura linguística complexa e uma comunidade ativa de usuários. No entanto, mesmo sendo uma das línguas oficiais do país, ainda é pouco conhecida pela população ouvinte. Enquanto as escolas oferecem inglês e espanhol, a Libras raramente está presente como disciplina obrigatória, o que dificulta o convívio e a comunicação com os surdos.

Imagine estar em um país estrangeiro, como o Japão, sem entender absolutamente nada da língua local. Agora pense que você mora nesse país, quer participar das conversas, dos cultos, das aulas, mas não consegue, porque ninguém aprendeu a sua língua. Essa é a realidade diária de muitas pessoas surdas no Brasil.

Inclusão começa com empatia

A inclusão de pessoas surdas vai além de leis e datas comemorativas. Ela começa com empatia e atitudes simples. Como cristãos, somos chamados a acolher, amar e servir ao próximo. Isso inclui também os surdos, que muitas vezes enfrentam o isolamento por falta de acessibilidade.

Aprender o básico da Libras, olhar nos olhos, perguntar se a pessoa precisa de ajuda, e estar disposto a ouvir com o coração são formas concretas de demonstrar amor. Como diz a Palavra de Deus: “O amor deve ser sincero. Odeiem o que é mau; apeguem‑se ao que é bom. Dediquem‑se uns aos outros com amor fraternal, preferindo dar honra aos outros mais do que a vocês.” (Rm 12:9-10) Aprender Libras, portanto, é mais do que adquirir uma nova habilidade, é exercitar o amor ao próximo de forma prática.

A diversidade dentro da comunidade surda

É importante reconhecer que há diferentes experiências dentro da comunidade surda. Algumas pessoas surdas conseguem ouvir parcialmente e desenvolver a fala oral; outras se comunicam exclusivamente por Libras. Isso varia conforme o grau de surdez, o acesso à educação e o apoio familiar.

Minha trajetória reflete um pouco dessa diversidade. Nasci surda e, com um ano e meio de idade, fui matriculada na Escola Especial Concórdia, voltada para surdos. Lá, aprendi Libras e me comunicava plenamente com professores e colegas. Desde cedo, tive o incentivo da minha família para estudar o português e demais disciplinas. Frequentava uma igreja com meus pais, onde minha mãe atuava como intérprete voluntária. Tínhamos um ministério de surdos, com estudos bíblicos e momentos de comunhão em nossa casa.

Após me casar com Eduardo, que é ouvinte e também intérprete de Libras voluntário na igreja, passei a frequentar com ele uma nova igreja, onde continuamos servindo juntos no ministério com surdos, promovendo inclusão e acessibilidade no ambiente cristão.

Educação, igreja e sociedade: espaços de inclusão

A acessibilidade deve estar presente em todos os espaços: escolas, igrejas, hospitais, meios de comunicação e órgãos públicos. Políticas públicas são importantes, mas a verdadeira inclusão acontece quando cada indivíduo decide romper a barreira do desconhecimento e abrir espaço para a comunicação.

A Libras deveria ser uma disciplina obrigatória nas escolas, assim como o inglês ou o espanhol. Afinal, os surdos fazem parte do nosso país, da nossa cultura e da nossa comunidade. Não se trata apenas de aprender um novo idioma, mas de reconhecer o direito das pessoas surdas de se expressarem e serem compreendidas.

Conclusão

No Dia Nacional da Libras, celebrado em 24 de abril, somos convidados a olhar com mais sensibilidade para a comunidade surda. A inclusão começa com pequenas atitudes e pode transformar vidas. Aprender Libras, acolher com carinho, respeitar as diferenças e garantir acessibilidade são passos concretos em direção a uma sociedade mais justa e fraterna. Como diz Provérbios 31:8: “Erga a voz em favor dos que não podem defender‑se; seja o defensor de todos os desamparados.”

Que possamos ser essa voz, esse apoio e esse gesto de amor no mundo. A inclusão é uma escolha — e começa com cada um de nós.

Késsya Rienzo Gonçalves Gomes


Késsya é surda desde o nascimento e possui formação em Design Gráfico pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e pós graduação em User Experience (UniRitter). Atua como Product Designer no Sicredi, com foco em soluções acessíveis e inclusivas.

[1] BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm. Acesso em: abr. 2025.

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