Entre trabalhar e servir a Deus, fique com os dois!
Recém-lançado, o filme A Forja – o poder da transformação [1] retrata o desafio de um jovem em busca da sua identidade e propósito. Com uma mãe cristã, separada do marido, o protagonista Isaías, no auge dos seus 19 anos, tinha uma rotina sem estudos nem trabalho, mas com um vício bem definido: games (qualquer semelhança com a realidade não será mera coincidência!).
Mas tudo muda quando sua mãe exige que ele comece a trabalhar. Surpreendentemente, mais do que uma remuneração, o rapaz ganha um mentor e novas perspectivas de vida. Por que tudo isso acontece? Seu chefe tinha um “negócio como missão”.
Negócios como Missão: engajando a fé cristã com o trabalho
Sem querer dar spoiler, é preciso dizer que o personagem teve sua vida transformada porque descobriu sua verdadeira identidade e seu propósito em Cristo, sendo discipulado no ambiente de trabalho. Eureca! É possível viver a cosmovisão cristã no dia a dia profissional, onde (quase) todo mundo passa metade de suas vidas e 99% do corpo de Cristo trabalha.
Quando Deus criou o mundo e designou Adão para ser o primeiro “CEO” do Jardim do Éden, o pecado ainda não existia. Portanto, podemos dizer que Deus delegou o trabalho para o ser humano, como algo bom, não como um castigo (Gn 2:15).
Foi um privilégio ouvir essa verdade diretamente do empresário, pastor e escritor Mike Baer [2], em sua palestra no Congresso BAM Brasil 2024. O autor do livro Negócios Como Missão – o potencial da empresa no Reino de Deus “detona o mito de que o ministério é sagrado e a empresa é secular. Sua própria peregrinação, de pastor a homem de negócios e então a motivador internacional da igreja, é um bom exemplo do que pode acontecer quando se compreende que negócios e ministério podem e devem ser a mesma coisa.” (Durwood Snead, Diretor de Missões Mundiais, North Point Community Church, Atlanta, EUA).
Só para esclarecer, Business as Mission (BAM) é o nome de uma organização cristã global que tem representação no Brasil. Trata-se do movimento de uma rede de empreendedores cristãos cujo propósito é realizar a Grande Comissão por meio dos negócios, baseados em quatro pilares: espiritual, econômico, social e ambiental (Mt 28: 19-20).
O fato é que nosso trabalho profissional corresponde a um chamado espiritual. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, com habilidades e dons para cooperarmos com Ele. O texto do Projeto Teologia do Trabalho diz: “Embora as funções e cargos possam ter diferenças aparentes em importância, nosso chamado é igual. Não existe uma chamada de segunda categoria vinda de Deus.”
Além disso, temos inúmeras referências bíblicas de pessoas que cumpriram seu chamado atuando em seus papéis sociais:
Abraão: pastor nômade (Gn 12:1–4)
Davi: pastor e rei (1Sm 16:11–13)
Ester: rainha (Es 4:14)
Áquila e Priscila: fabricantes de tendas (At 18:2-3)
Lídia: vendedora de tecidos (At 16:14)
Paulo: fazedor de tendas e apóstolo (At 18)
Lucas: médico (Cl 4:14)
E muitos outros.
Fé cristã e trabalho: conectando gerações
Mike Baer ainda contou que certa vez um jovem cristão de sua igreja lhe perguntou o que poderia fazer para ser mais usado por Deus. E Mike logo respondeu: “Vá trabalhar!” Uau, precisamos desse posicionamento!
Infelizmente, essa postura não parece fazer parte da nossa cultura. O que vemos por aí são jovens que param de estudar quando começam a trabalhar, como se uma coisa excluísse a outra! A demanda é urgente. Precisamos de líderes (pais, professores, empresários) dispostos a caminhar lado a lado com nossos adolescentes/jovens. E nós (adultos) precisamos nutrir essa conexão para que, juntos, cumpramos os propósitos do Reino.
Por isso, neste ano, o 4º Congresso de Lausanne [3] colocou foco sobre líderes jovens e divulgou que “A colaboração intergeracional enfatiza a importância do trabalho de liderança conjunta entre pessoas de gerações diferentes[…] Os líderes jovens têm a oportunidade de receber orientação de um líder mais experiente que os acompanhará no estudo da Palavra, na oração e no discipulado para toda a vida, incluindo aspectos espirituais, emocionais, físicos, relacionais e cognitivos de suas vidas.”
Você conhece a palavra ‘avad?
O verbo hebraico ‘avad e termos cognatos são fantásticos porque integram a ideia de trabalhar, cultivar, servir e adorar. Eles aparecem mais de 250 vezes no Antigo Testamento e revelam o que Deus espera de nós: trabalho como forma de adoração.
Após mais de 20 anos de conversão, finalmente aprendi que é possível ter uma vida que glorifique ao Senhor em todo o tempo, com tudo o que fazemos. Podemos honrar a Deus ao nos conectarmos com pessoas de todas as idades, desde que tenhamos intencionalidade.
Na minha história, a “mágica” aconteceu quando convidei meu primogênito de 13 anos para um estágio remunerado em meu escritório (alguns dias por semana, no contraturno escolar). Em poucos dias, vi aquele garoto – antes mais focado em jogos do que no diálogo (para dizer o mínimo) – se sentir valorizado e amado, até que um dia ele olhou bem no fundo dos meus olhos e disse: “Mãe, eu amo trabalhar com a senhora!” Fogos de artifício explodiram em meu coração! Fiquei sem palavras para expressar a alegria extrema ao ver o agir de Deus bem diante dos meus olhos!
Claro que não existe receita para amadurecermos nossos jovens, seja em casa, na escola, igreja ou trabalho. E, talvez, nem precisemos disso. Só não podemos perder a consciência de que Deus nos fez para ‘avad. Bora começar?
Cynthia Neves Blasques
É jornalista por formação, comunicadora por vocação e professora por paixão. Mestre em Mídia e Tecnologia, leciona no Seminário Teológico Batista do Estado de São Paulo desde 2018 e dirige uma agência de comunicação e aprendizagem. Esposa apaixonada, mãe do Brayan (14) e da Lorena (12), com quem aprende todos os dias. Ama pets, café e comida boa!
[1] Filme cristão, americano, dirigido por Alex Kendrick e co-escrito com seu irmão Stephen Kendrick. Um “braço” do filme Quarto de Guerra.
[2] Mike Baer estudou no Seminário Teológico de Dallas e foi pastor por quinze anos. Seu primeiro livro, Business as Mission, está disponível em 6 idiomas e é um dos livros mais vendidos sobre o assunto.
[3] Evento sobre evangelização mundial, iniciado em 1974, com Billy Graham. Este ano aconteceu na Coreia do Sul, com mais de 5 mil pessoas de 202 países. O encontro definiu uma agenda para a missão cristã global à luz do ano de 2050.
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