Vimos Sua Estrela no Oriente: os reis magos e o teu trabalho

Estamos chegando no natal, tempo em que pensamos primeiramente no nascimento de Jesus, mas também nas festividades, nas luzes e decorações, na boa comida dos encontros de família, e nos presentes, ainda que de amigo secreto. Mas, chega de pensar no trabalho, né? Entendo, você quer descansar e isso é legítimo. Mas essa parada pode servir para refletirmos sobre como o nascimento de Jesus muda tudo, inclusive nosso trabalho. Um exemplo disso pode ser observado na história da visita dos magos à casa onde Jesus e seus pais moravam. (Sugiro que você tire um minuto para ler essa história em Mateus 2:1–11 antes de continuar.)

Quem eram o reis magos?

Embora seja comum as pessoas se referirem a eles como “reis magos”, o Novo Testamento os chama apenas de “magos”. Não sabemos de onde eles vieram, apenas que eram do oriente, talvez da Mesopotâmia, onde hoje fica o Iraque. À semelhança dos magos descritos no livro de Daniel, esses homens eram profissionais que estudavam as estrelas, interpretavam sonhos e visões, praticavam algum tipo de religião pagã, e serviam como conselheiro dos reis.

Via de regra, a Bíblia vê esse tipo de profissão como algo inferior ou, até mesmo, ilegítimo. Na melhor das hipóteses, esses profissionais seriam charlatões, enganando as pessoas, e na pior, seriam falsos profetas, levando as pessoas para longe de Deus. Mas estes magos, ao se dedicarem a observar os fenômenos estelares com excelência, à semelhança de um astrônomo, e fazer interpretações e previsões à semelhança de um astrólogo, esbarraram na revelação natural de Deus (Sl 19:1; Rm 1:20). Apesar de suas técnicas pagãs, eles vislumbraram a grandeza do poder do Deus Verdadeiro, e reagiram da melhor forma que podiam, considerando o seu desconhecimento das Escrituras. É possível que tenham concluído que por mais que as estrelas pudessem orientá-los, havia Alguém por trás delas, organizando os seus movimentos.

Ergam os olhos e olhem para as alturas.
Quem criou tudo isso?
Aquele que põe em marcha cada estrela do seu exército celestial,
e a todas chama pelo nome.
Tão grande é o seu poder e tão imensa a sua força,
que nenhuma delas deixa de comparecer! (Is 40:26).
A maioria das versões diz que eles viram “sua estrela no oriente”, mas uma tradução melhor seria “sua estrela se levantando ou surgindo”. Não sabemos exatamente o que eles observaram. Pode ter sido o alinhamento de Saturno e Júpiter, que aconteceu em 7 a.C., ou a supernova de 5 a.C., mas o fato de que essa estrela trouxe orientação específica também abre a possibilidade de algo incomum e sobrenatural.[1] Seja como for, estamos diante do cumprimento profecia messiânica de Números 24:17, que compara o surgimento de um novo rei para Israel à chegada de uma estrela, a “sua estrela”, a estrela de Jesus Cristo.

Uma estrela surgirá de Jacó;
um cetro se levantará de Israel.

Os líderes religiosos dos judeus da época tinham acesso à revelação especial através das Escrituras e sabiam exatamente onde o tão esperado Rei-Messias haveria de nascer — em Belém —, porém não se interessaram em ir verificar e acabaram sendo cúmplices do massacre dos inocentes promovido pela paranoia de Herodes. Já os magos, diante da experiência de contemplar o divino, não mediram esforços para se aproximarem ainda mais dele, prostrarem-se aos seus pés em adoração e ofertarem o que tinham de melhor.

O que podemos aprender com eles?

A atitude dos magos coloca a nossa percepção da relação fé e trabalho de ponta-cabeça. Muitas vezes olhamos para Cristo como uma forma de alcançarmos o sucesso profissional e encontrarmos satisfação no nosso trabalho (embora isso muitas vezes acabe acontecendo); ou seja, usamos Cristo como um meio para alcançarmos nossos próprios fins. Mas foi o trabalho pagão dos magos que os levou a conhecerem Jesus. O nosso trabalho é o meio, o fim é Cristo. Como afirma Paul Stevens, “o trabalho atua como um evangelista que nos dirige na direção de Cristo.”[2]

Outras tantas vezes vemos o trabalho secular como um lugar hostil à fé e o tratamos com desconfiança porque consideramos nosso trabalho como um obstáculo a ser superado se quisermos de fato viver pela fé. Mas foi justamente o trabalho dos magos que preparou o caminho para a fé deles. Ainda hoje Deus pode se revelar a não-crentes através do seu trabalho comum e ordinário. Pensando assim, talvez nosso principal papel no local de trabalho seja ajudar nossos colegas a perceberem e apreciarem a presença de Deus que já está lá, bem como ajudá-los a entenderem o que Deus está lhes revelando através do trabalho deles.[3]

O trabalho dos magos também nos lembra a quem estamos servindo. Os seus presentes a Jesus reconhecem a sua realeza (ouro) e a sua função sacerdotal (incenso), e antecipam a sua morte salvadora (mirra). Esses presentes eram caros e somente foram ofertados a Jesus porque eles (ou alguém) trabalhou arduamente. Por isso, além de curtir as festas de fim de ano, que tal se perguntar: tenho percebido a presença de Deus no meu trabalho? Tenho usado o trabalho para fazer pontes com meus colegas descrentes? Como posso servir a Cristo com minha atividade profissional?


Raphael A. Haeuser
Coordenador do Didaquê
TeachBeyond Brasil

[1] CARSON, D. A., FRANCE, R. T., MOTYER, J. A., and WENHAM, G. J., eds. New Bible Commentary: 21st Century Edition. 4th ed. Downers Grove, IL: IVP, 1994.

[2] STEVENS, Paul. Disciplinas Para um Coração Faminto: servindo a Deus sete dias da semana. São Paulo/SP: Abba Press, 1993, p. 23.

[3] “Matthew” IN: Theology of Work Bible Commentary. (https://www.theologyofwork.org/new-testament/matthew) acesso em 15/12/2022.

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