Ensino Médio, Vestibular e Vocação: o professor como conselheiro

Comentei recentemente com um amigo que uma ex-aluna minha se casou. Lembrei-me com alegria da nossa conversa em uma tarde fora da agenda em que essa estudante do segundo ano do ensino médio veio me perguntar sobre relacionamentos. A memória renovou em mim a visão do professor em uma relação saudável de aconselhamento, acrescentando vida, tanto para os educadores quanto para os estudantes.

Na atual configuração do ensino médio, a época da escolha profissional e técnica coincide com um olhar mais amplo sobre a vida na mente do adolescente. Questionamentos, reflexões, pensamentos acerca de identidade, caráter, preferências, habilidades e escolhas emergem como uma forma natural de expressar amadurecimento, mas que também podem ser muito desgastantes ou trabalhosas para alguns alunos.

O fato (ou talvez, a pressão) que os alunos sentem de ter que escolher o curso, a universidade e, às vezes, até uma cidade diferente para viver podem ser problemáticos quando fatores familiares e pessoais não estão alinhados. Sintomas como perda de interesse nos estudos em decorrência da ansiedade do não-saber ou extrema cobrança relacionada ao interesse em um curso muito concorrido são comuns no dia a dia de escolas públicas e privadas.
Muitas escolas lidam com essas questões traçando ferramentas associadas à didática dentro da sala de aula ou por meio de palestras que ajudam o aluno a encontrar sua vocação, mas frequentemente se esquecem de desenvolver a visão de relacionamentos na figura que mais passa tempo com o estudante: o professor.

A reflexão proposta aqui não tem a intenção de adicionar mais um fardo na vida dos professores ou das escolas. Estamos cientes de que o chão da sala de aula resguarda muitos desafios administrativos e orçamentários, desafios relacionados ao perfil do alunado e ainda, constantes demonstrações de violência. É desafiador falar de aconselhamento quando nem das avaliações costumeiras estamos dando conta por fatores externos a nós.
No entanto, apesar de entender que a situação é complexa e diversa em cada escola, não se pode deixar de explorar, com criatividade e sabedoria, as oportunidades de ministrar na vida de pessoas onde Deus tem nos colocado. Cientes de que é Ele quem abre e fecha as portas e de que é Ele quem capacita os seus servos para atuarem no Reino é que desejamos renovar no leitor a visão de amar e servir a Deus no mundo, naquele nosso pedaço de mundo particular – a sala de aula.

Voltando à nossa proposta, o professor é uma figura de referência para o estudante em muitas situações. A forma como ele age em sala de aula e se comunica com os alunos, e o que ele pergunta a eles fala para além da disciplina ministrada. Os exemplos que escolhemos apresentar, a visão de mundo que aparece nos corredores comunica e tudo o mais que transborda de nós oferece uma pequena peça na imagem que o aluno alimenta a nosso respeito. Quando falamos ou escolhemos não falar sobre nossas escolhas, experiências de vida e aprendizados que tivemos, isso também comunica uma parte de nós.

Fixar essa realidade no nosso horizonte abre caminhos para o aconselhamento estudantil, já que intencionalmente ou não, estamos compartilhando fatos e pensamentos sobre nós ao longo do aprendizado da disciplina. Então, por que não adicionar propósito a isso, então? Aqui iremos para passos práticos e simples que desenvolvem no professor a sensibilidade para aproveitar as oportunidades.

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Conheça seu aluno. Procure saber seu nome, um contexto geral sobre ele e uma coisa específica que seja da área de interesse. A depender da sua realidade, junte informações sobre os alunos, sobre a turma como um todo, que lhe ajudem a ser mais eficiente na aproximação.
  • Estabeleça pontes. A partir desse conhecimento, procure se comunicar nas áreas de interesse que despertam sua atenção. Faça perguntas querendo saber as respostas. “Percebi que você está um pouco distante hoje, aconteceu alguma coisa que posso ajudar?” ou  “Vi que você fez essa pergunta, mas estou começando a achar que você quer conversar mais sobre esse assunto. É verdade?” ou “Por que você agiu dessa forma em sala hoje? Você já estava com raiva de outra situação?”. Demonstrar interesse de forma genuína é uma das formas mais eficazes de desenvolver uma ponte com o aluno. Procure ser muito claro para que o interesse não seja confundido com uma busca por controle ou manipulação da turma ou ainda, para não ser tido como forma de violência a um menor.
  • Ministre a sabedoria de Deus por meio de experiências de vida e situações do cotidiano. É necessário ter mais paciência com alguma situação específica? Fale aos alunos como a paciência produz perseverança e de como isso é um princípio bíblico. A turma anda desorientada da realidade da vida? Conte a história das duas casas: a que tinha um alicerce firme e a que não tinha (Mt 7:24–27). Explore situações comuns ao contexto: falta de foco, vícios, excesso de entretenimento, falta de fé em Deus. A escolha vocacional está pesando emocionalmente? Procure vivências suas e de colegas, de pessoas reais que passaram por isso, mas conseguiram sobrepor com a sabedoria de Deus.
Invista tempo de sala de aula em aconselhamento.

Esse tipo de envolvimento com o aluno não é um tempo perdido, nem uma desculpa para não trabalhar. Isso é parte do seu trabalho e um elemento da sua vocação de professor, ainda que os resultados não sejam vistos no presente. Lance a semente e cultive para o Criador.



Joyce Melo
Equipe Didaquê
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