Educação como Missão

Como valorizar, respeitar e proteger as crianças nas postagens nas redes sociais?

Você consegue acompanhar?! O mundo digital de hoje é muito diferente do mundo digital de dez anos atrás, talvez de cinco anos também e… na verdade, provavelmente até do mês passado!  Então, será que o que funcionou no ano passado ou na última década é adequado hoje em dia no que diz respeito à salvaguarda de crianças nas postagens de redes sociais?

Sejamos honestos, todos nós adoramos ver um vídeo bonito de um bebé rindo ou ver fotos comemorativas da formatura de uma escola ou campeonato esportivo. Imagens como estas podem envolver todos trazendo grande alegria e são um prazer ver no feed. Parte da vida comunitária é celebrar as alegrias uns dos outros e testemunhar momentos felizes que, claro, envolvem muitas vezes as crianças. Isso é maravilhoso! Este artigo não é para negar isso, mas sim para ajudar a cada um de nós, individualmente, a ponderar e avaliar como podemos continuar a respeitar e a proteger as crianças quando postamos sobre crianças online no mundo digital de hoje. 

Vamos começar com duas perguntas:

  • Onde publicamos sobre crianças? Podemos publicar sobre os nossos próprios filhos ou estudantes em redes sociais, blogs, sites, anúncios promocionais, revistas ou em boletins informativos. 
  • Por que publicamos sobre crianças online?   As respostas podem incluir porque queremos compartilhar uma história positiva e feliz, sensibilizar para a situação de certas crianças ou compartilhar sobre o nosso ministério que envolve as crianças.  Todas genuinamente boas razões.  

No entanto, se formos honestos, pode haver momentos em que estamos destacando uma criança porque desejamos usar de maneira errada esta relação para nos engrandecer no nosso ministério ou para angariar recursos.  Recentemente, quando a Equipe de Salvaguarda do TeachBeyond realizou pesquisas sobre o motivo pelo qual quem está levantando sustento usam frequentemente imagens de crianças nos seus materiais promocionais, uma resposta repetida foi porque “as imagens das crianças vendem”.  Pensem sobre isso; “as imagens das crianças vendem”. Como é que isto pode ser feito de uma forma que proteja e respeite as crianças? 

Sarah estava num momento de adoração pessoal durante a capela da sua escola quando sentiu que alguém estava tirando foto dela sem autorização. Claro que, uma semana depois, uma foto dela com os braços estendidos cantando ao Senhor foi publicada em todos os materiais promocionais da escola. Muitas pessoas comentaram e logo ela foi vista como a “aluna cristã modelo” da escola. Inicialmente ela gostava da atenção, mas gradualmente, sentiu a pressão para continuar a “atuar” durante a capela. No seu período de adoração ela começou a sentir-se vazia e envergonhada. 

Talvez você não pense que o exemplo acima tem algo a ver com salvaguarda. Parece inocente, mas, no entanto, há algo mais profundo acontecendo. Em primeiro lugar, é sobre a privacidade de Sarah, porque a foto foi tirada sem permissão. É também sobre integridade e como podemos ser tentados a usar uma imagem para causar uma impressão ou melhorar a reputação da nossa organização ou ministério sem pensar nos impactos sobre a criança. 

Todos sabemos que, se postarmos sobre uma criança na esfera digital, ela estará lá para sempre como parte do seu rastro digital, mesmo que apaguemos a foto. A esfera digital não é apenas a Web aberta que todos nós podemos ver, mas também a Deep e a Dark Web onde o conteúdo perigoso e ilícito é armazenado.

( www.crowdstrike.com/cybersecurity-101)

Infelizmente, as informações das crianças também podem ser roubadas e exploradas, e as imagens das crianças podem ser manipuladas. Estamos ouvindo cada vez mais relatos de imagens de crianças serem editadas com IA numa imagem sexual abusiva para depois ser usada para chantagear a criança por dinheiro ou extorqui-la com outras ameaças.  

John ficou chocado quando recebeu uma mensagem privada no Instagram. Alguém tinha manipulado uma foto dele jogando futebol para uma foto dele abusando de uma menina. Isso era falso! Ele ficou horrorizado e imediatamente e passou mal no banheiro. Uma segunda mensagem apareceu pedindo 100 dólares, caso contrário a foto seria publicada em sua conta que foi pirateada. 

Curiosamente, as nossas crianças hoje têm muitas vezes mais consciência do mundo digital do que nós. A atriz famosa Gwyneth Paltrow, publicou uma imagem feliz com a sua filha adolescente no seu Instagram com milhões de seguidores. A filha respondeu nos comentários: “Mãe, já discutimos isso. Você não pode publicar nada sem o meu consentimento.  Joanne Orlando, investigadora de Crianças e Tecnologia, afirmou que “as crianças têm direito à privacidade. Esta é, na verdade, uma das Convenções dos Direitos da Infância… Os pais estão numa posição de detentores da identidade digital dos seus filhos e, devido a este papel temporário importante, é melhor errar por cautela. Isso significa cautela em termos do quanto da sua vida você está compartilhando, do que você adiciona ao vídeo, imagens e dos comentários que você faz.”1

Temos que assegurar que as crianças têm voz e que os seus direitos são respeitados e reconhecer os consideráveis desequilíbrios de poder que podem estar em jogo tanto na produção como no consumo de imagens de crianças. O acordo legal global, a Convenções dos Direitos da Criança das Nações Unidas (UNRCR), afirma no artigo 3 (parafraseado), “O melhor interesse da criança deve ser uma prioridade em todas as decisões e ações que as afetam” e no artigo 16, (parafraseado), “Toda a criança tem direito à privacidade.”2 No entanto, o nosso chamado de seguidores transformados de Jesus vai além do que é considerado apenas “legal”. As crianças são uma bênção e herança de Deus.  O nosso mandato bíblico e a nossa responsabilidade é valorizar e cuidar das crianças, com o objetivo de reduzir o risco de danos e garantir que as crianças possam vir até Ele sem obstáculos, como parte da missão contínua de Deus de transformar indivíduos e comunidades em tudo o que ele projetou.

Então, como podemos continuar a proteger bem as crianças e a respeitar a sua privacidade ao publicar online? Como podemos seguir considerações éticas, especialmente para crianças mais vulneráveis? Como podemos crescer na consciência em salvaguarda para o mundo digital de hoje? Aqui estão algumas dicas para pensar:

  • Vamos dar prioridade aos direitos e necessidades da criança. Mesmo que tenhamos o consentimento para publicar, isso é o melhor interesse da criança? Porque é que estou fazendo isto? Quem se beneficia?  O post trai a privacidade ou a confiança da criança?  
  • Vamos garantir que as comunicações online não causem mal. Será que compartilhar esta imagem ou informação sobre essa criança pode prejudicá-la de alguma forma, atualmente ou no futuro? Como o post vai fazer a criança se sentir se ela o vir no futuro?  Se os colegas da criança encontrarem o post, como eles poderiam usá-lo? Será que o post vai acrescentar pressão à criança para ser perfeito ou gabar-se?
  • Vamos garantir que obtemos o consentimento informado. Consentimento informado é a permissão que uma pessoa concede para ser fotografada, ou ter suas informações recolhidas, com pleno conhecimento de onde, quando, como e para que finalidade a imagem ou a informação serão usadas, e com o entendimento de que podem dizer “não” sem sofrer nenhuma consequência. O consentimento informado é a pedra angular ética do recolhimento e utilização de conteúdos. É muito mais do que apenas pedir a pais ou filhos que tiquem o campo “permissão de uso midia”. Requer diálogo significativo e trata-se de ouvir e permitir perguntas. Uma pergunta que temos que nos fazer é quando devemos começar a pedir consentimento informado das crianças, em vez de apenas dos pais? Algo sobre o qual todos nós precisamos pensar nos nossos contextos. 
  • Vamos garantir uma representação responsável. “Uma única história cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é que eles são falsos, mas que eles são incompletos. Fazem com que uma história se torne a única história.3 (Chimamanda Ngozi Adichie) Fotos de crianças tristes e atingidas pela pobreza têm sido frequentemente usadas para ajudar a angariar fundos para instituições de caridade internacionais. Muitos agora se perguntam se imagens como estas têm promovido emoção à custa da compreensão – um fenômeno às vezes chamado de pornografia da pobreza. A pornografia da pobreza tem sido definida como “qualquer tipo de mídia, seja escrita, fotografada ou filmada, que explora a condição dos pobres para gerar a simpatia necessária para vender jornais, aumentar as doações de caridade, ou apoiar uma determinada causa.” 4 (Matt Collins) 

Finalmente, estamos, ou eu estou dando um bom exemplo como um adulto cristão no mundo digital? Será que a forma como interajo digitalmente glorifica a Deus e dou um exemplo positivo para os meus filhos? As crianças sob nossa responsabilidade, quer sejam ou não os nossos alunos, estão vendo a nossa relação com o mundo digital, e muitas vezes seguem o nosso exemplo.

Durante a sua infância, Petra via frequentemente o seu pai vendo sobre política nas suas redes sociais. O que o pai escreve é muito mais duro do que a maneira como ele fala. O pai muitas vezes compartilhava reels que zombavam de um político ou difamava um grupo de pessoas. Quando Petra questionou se a sua conduta online estava amando e glorificando a Deus, o seu pai disse que esse tipo de comportamento era normal, mas não pessoalmente. Petra começou a copiar o comportamento do seu pai e começou a compartilhar reels zoando de grupos com quem discordava e a tuitar mensagens negativas e cruéis. Um dia, ele foi chamado pelo diretor da escola por causa de postagens com conteúdo inflamatório sexista e discriminatório online. 

Como respondemos a isso? Aqui estão três ideias:

  • Em espírito de oração e crítica, avalie a sua própria conduta online e pergunte a outros que você respeita, o que eles pensam também. 
  • Verifique com o projeto ou escola onde você trabalha e leia o consentimento informado e certifique-se de que segue sempre as políticas de comunicação. 
  • Verifique as suas definições de privacidade em todas as suas contas, especialmente as relacionadas com as suas newsletters. Mas lembre-se – até perfis fechados podem ser printados e serem compartilhados.  Considere adicionar uma frase à sua newsletter, como: “Por favor, não partilhe esta newsletter sem permissão.”

Este é um assunto complicado, e reconhecemos que todos nós provavelmente cometemos erros não intencionais no passado, mas essa pode ser uma oportunidade maravilhosa para crescer, aprender e ganhar sabedoria. Louvamos a Deus porque Ele é todo sábio e justo e podemos pedir o Seu trabalho transformador nas nossas vidas enquanto procuramos refleti-lO na Sua força e na Sua glória. “Quem é sábio e compreensivo entre vós? Que eles o mostre com a sua boa vida, com ações feitas na humildade que vem da sabedoria.” (Tiago 3:13) Obrigado por fazer parte da salvaguarda global das crianças com o TeachBeyond.

Escrito pela Equipe de Salvaguarda TeachBeyond

Recursos citados:

  • Is social media damaging to children and teens? We asked five experts
  • A summary of the UN Convention on the Rights of the Child
  • Chimamanda Ngozi Adichie “O perigo de uma única história” TEDtalk 2009
  • Poverty Porn: Athe unethical way to ‘save’ the poor

Recursos adicionais:

Picture-Perfect PrivacyA Guide to Responsible Sharing of Your Kids’ Photos

Putting the people in the pictures first – Ethical guidelines for the collection and use of content (image and stories)

Helpful information and guidance on a range of key online safety topics