A importância da devoção pessoal a Cristo, da coerência social e da proclamação oportuna do evangelho.

A Saúde Espiritual do Educador

(série Saúde Integral)

Falar da espiritualidade do professor é falar da espiritualidade de todos nós. Partindo de uma antropologia judaico-cristã, entendo que o ser humano é matéria inorgânica que se torna alma vivente pelo sopro do Espírito. Isso me leva a crer que esse anseio pelo transcendente, que chamamos de espiritualidade, é uma condição intrínseca ao ser humano. Temos sede do eterno e as palavras bíblicas atestam que Deus “pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (Ec 3:11). Sendo assim, por mais que haja quem negue qualquer possibilidade de conhecer e se relacionar com seres espirituais, ainda assim, o anseio e a busca permanecem.

Isto posto, que relevância há, tratarmos deste assunto que primariamente é de foro íntimo? Afinal, uns creem e outros não, e ainda outros combatem qualquer tipo de manifestação de religiosidade. Faço aqui uma distinção importante entre mera religiosidade e espiritualidade. Uma prende-se aos dogmas, ritos e tradições de uma confissão e a outra diz respeito a expressão individual e única de cada ser na sua relação com o transcendente. Como partimos de uma premissa judaico-cristã, entendemos Deus, o Criador, é um ser espiritual e pessoal, dotado de racionalidade, afetividade, volição e relacionalidade, como muito bem expresso nas Escrituras.

A espiritualidade é uma experiência universal que cada um experimenta e expressa de uma maneira peculiar. Aos que se apresentam como cristãos, seguidores do Caminho (como eram conhecidos no passado), como seria esta experiência no exercício da docência e nos demais ambientes de vivência cotidiana? Gostaria de sugerir três possibilidades: devoção pessoal, coerência social, proclamação oportuna. Vejamos, brevemente, cada uma delas.

Devoção Pessoal: Dissemos anteriormente que a espiritualidade cristã traz um componente de relacionalidade. Cremos num Deus pessoal que ainda hoje se comunica com a Sua criação e de modo especial com aqueles feitos à Sua imagem e Semelhança. A meditação nas Escrituras Sagradas, conteúdos que revelam a pessoa e ação de Deus na história, e a oração como forma de expressar de desejos, dúvidas, confissão, gratidão e adoração a um Pai nosso, são disciplinas espirituais de apelo diário que alimentam a alma e o sentido do ser. Na carta aos Hebreus 11:6, no Novo Testamento, o autor nos dirá: “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.” Ou seja, precisamos chegar diante do Sagrado com todo nosso ser— corpo, mente e coração — totalmente temperado por uma fé que descansa na certeza da Sua existência e imanência! Você crê?

Coerência Social: O outro lado dessa questão está em Tiago 2:18 que diz “Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras.” Nossa salvação da morte eterna ocorre por uma declaração de arrependimento e fé na obra expiatória realizada por Jesus na Cruz. Esta é a confiança de todo cristão, sem que ele tenha de fazer qualquer coisa para conquistá-la. É tão somente pela fé! Contudo, a expressão dessa fé ocorre por boas obras realizadas posteriormente, como consequência de um novo e generoso coração dado por Deus. As boas obras, portanto, acompanham a fé! Ou seja, o professor cristão estará atento às oportunidades de servir em seu ambiente de trabalho, expressando sua espiritualidade através de uma aula bem preparada, dedicação e aplicação nos conteúdos propostos e um olhar atento ainda, aos sinais emitidos por seus alunos de alguma dificuldade de aprendizagem ou de comportamento que possa ser tratada, com todo respeito à individualidade e em momento oportuno. A espiritualidade cristã, portanto, não fica restrita a uma experiência intimista ou meramente religiosa. Você tem sido coerente?

Proclamação Oportuna: A espiritualidade cristã, no meu entendimento, é primariamente encarnacional. Nossa pregação, proclamação do que cremos, inicia com um mínimo de coerência entre o crer e viver a fé. Amor, respeito, honra, perdão, sacrifício, empatia são algumas marcas de quem recebe o apelido de cristão. Mas a espiritualidade cristã, e por conseguinte do professor cristão, é propositiva e não perde as oportunidade de expressar claramente sua fé. Há um conteúdo revelado que envolve tanto a compreensão da vida e obra de Jesus, da sua vinda, ensino, morte, ressurreição e volta, bem como o desafio de ser anunciado, na expectativa de se fazer novos discípulos de Jesus que façam outros seguidores dEle! A espiritualidade é tratada diretamente na escola no contexto do ensino religioso, mas como vivência cristã, a espiritualidade permeia todas as matérias e nos conduz a urgência e oportunidade de testemunhar da nossa fé! Como está a evangelização em sua escola?

Concluo deixando uma provocação a todos nós: Como tem sido nossa vivência de espiritualidade? Em nosso tempo com Deus, em nossa expressão de Deus no ambiente escolar e a comunicação do Evangelho entre colegas, alunos, direção e colaboradores da escola? Não vivemos em uma “espiritosfera” alienada e nem concordamos com uma esquizofrenia, onde vivemos uma espiritualidade na igreja, outra em casa e outra ainda na escola! Que nosso Deus nos dê o equilíbrio, a vontade e a ousadia de vivermos o que cremos numa espiritualidade sadia, abençoada e abençoadora.

Erlo Saul Aurich

é teólogo, pastor e especialista em Terapia Familiar. Co-fundador dos projetos Galera.Com, Rede de Proteção à Família e Águia, é Coordenador de Relacionamentos da TeachBeyond Brasil, voluntário da MPC e membro do corpo docente da Eirene do Brasil.

Foto por Trevor Harder (Instagram: @trevorjharder). Usado com permissão.

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