Confissões de Um Professor Estressado

Quando eu era professor, tirei uma licença para me dedicar aos meus estudos. Enquanto estudava, trabalhei de tempo parcial como garçom. Tive saudades de muitas coisas da vida docente: interagir com os colegas, observar os alunos aprenderem, tentar preparar uma ótima aula e às vezes até mesmo corrigir trabalhos. No entanto, havia uma coisa de que eu não senti falta: como garçom, NUNCA precisei levar trabalho para casa!

Para um educador, levar trabalho para casa “faz parte” Afinal, estamos sempre preocupados com o bem-estar dos nossos alunos. Procuramos continuamente maneiras de tornar a experiência de aprendizado deles melhor. Temos coisas para corrigir e, claro, não podemos esquecer de preparar a aula de amanhã.

Embora várias coisas boas possam resultar de todo esse trabalho árduo, ele traz consigo um efeito colateral: estamos esgotados. E quando estamos cansados, perdemos a alegria de ensinar e nos tornamos menos eficazes no que fazemos. Ficamos mais impacientes, irritáveis ​​e amargos, exibindo traços de caráter que se assemelham mais às obras da carne do que ao fruto do Espírito.

Decidi escrever sobre isso porque, mais do que tudo, essa pandemia me deixou cansado. E tenho visto muitos dos meus amigos professores cansados também. E aí o que fazer?

A resposta bíblica para isso é a guarda do sábado, não como lei, mas como um dia de descanso. No Antigo Testamento, o povo de Israel era orientado a separar um dia para o descanso e adoração a cada sete dias. A própria palavra sábado na língua portuguesa vem da palavra hebraico shabbat, derivada do verbo “parar” (shabat) e semelhante ao número “sete”.

No quarto mandamento do Decálogo (Ex 20:8–11), lemos que fomos criados para trabalhar, mas também para descansar. Guardar o sábado não é um mandamento aleatório, pois o ritmo trabalho-descanso está embutido na ordem criada. Deus descansou depois de criar os céus e a terra (Gn 2:2–3). Por um lado, Ele estava expressando aquela satisfação que também experimentamos quando realizamos com sucesso nossas tarefas ou projetos.  Por outro, ainda havia muito trabalho a ser feito! Afinal, Deus delegou a nós o governo da criação, o enchimento do mundo, o cultivo da terra e a nomeação dos animais. Então me pergunto: se Deus não fez tudo o que podia ter sido feito, por que tenho a compulsão de agir como se tudo dependesse de mim?

Curiosamente, na outra versão do Decálogo (Dt 5:12–15), há uma razão diferente para a guarda do sábado. Lá essa prática está fundamentada na obra redentora de Deus de libertação de Israel da opressão do Egito. Tendo experimentado a graça de Deus, Israel não pode agir de forma opressora. Não é apenas o chefe da família que tem direito ao descanso, mas também seus filhos, servos, estrangeiros que trabalham para ele, e até mesmo seus animais. Todos têm o direito de recuperar o fôlego (Êx 23:12). Isso me faz pensar, com que frequência o meu desejo de ser eficiente causa estresse no meu aluno?

Quando chegamos ao Novo Testamento, a guarda do sábado havia sido distorcida. Os fariseus, por meio de seu entendimento equivocado, conseguiram transformar o que deveria ser uma fonte de alegria e revigoramento em um fardo legalista. Eles supunham que não podiam andar mais de 500 metros para visitar um amigo nem fazer fogo para cozinhar uma refeição no sábado. Jesus os corrigiu, dizendo “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” (Mc 2:27) Ter um dia de descanso não é uma regra que obedecemos para agradar a Deus, mas um presente que recebemos Dele. E aí me pergunto: o meu estilo de vida é uma fonte de estresse e tensão, ou de graça e bênção às pessoas à minha volta?

Na mentalidade hebraica, um dia não vai da meia-noite à meia-noite, mas de pôr-do-sol a pôr-do-sol. Quando acordamos para trabalhar não estamos começando nada, apenas nos unindo ao que Deus já vem fazendo. Deus está sempre agindo no mundo, mesmo enquanto dormimos (Sl 127:2 nota). Talvez o nosso ritmo não deva ser visto como trabalho e descanso, e sim como descanso e trabalho. Só podemos trabalhar adequadamente quando estamos bem descansados ​​nos braços do nosso Pai. Pensando assim, a minha relutância em descansar adequadamente revela minha falta de fé e dependência de Deus.

Então, o que você e eu podemos fazer para estabelecer um ritmo de vida mais saudável? Primeiro, é importante lembrar que estamos diante de um ritmo semanal. Claro que férias são importantes, mas precisamos criar espaços de descanso na nossa agenda semanal.

Segundo, é preciso reconhecer que existem diferentes tipos de descanso. Eu preciso de tempo para descansar…

  • o meu espírito, tendo tempo para se conectar com o Espírito de Deus por meio da oração, da leitura da Bíblia e de outras disciplinas espirituais.
  • o meu corpo, dormindo bem e o suficiente, e tendo uma postura física saudável no trabalho. E se você leva uma vida mais sedentária como eu, descansar fisicamente também significa se exercitar algumas vezes por semana.
  • a minha mente, desacelerando os meus pensamentos e deixando de pensar no meu trabalho o tempo todo, bem como desconectando-me dos estímulos constantes da mídia social, música, reuniões online, bate-papos em grupo e assim por diante.

Finalmente, descansar não é apenas deixar fazer coisas, mas também fazer coisas diferentes. Descansar também é fazer uma trilha e desfrutar da boa criação de Deus, é desenvolver o nosso lado criativo ou artístico através de um hobby, é ter tempo para visitar aquele amigo que não vemos há algum tempo.

Tenho aprendido que Deus nos chamou para o trabalho, mas não para o estresse. Por isso, vou parar por aqui e descansar um pouco.



Raphael A. Haeuser
Coordenador do Didaquê
TeachBeyond Brasil
A Saúde do Educador

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