Triângulos, Trens e Ensino de Qualidade

Como um gestor responsável por supervisionar a instrução, eu sei dizer quando ensino de qualidade está acontecendo nas salas de aula. No entanto, embora pudesse ver e sentir, sempre tive grande dificuldade em definir o que é uma boa aula. Cada professor é diferente. Cada aula é diferente. Não existe uma maneira única de ensinar. E certamente não há uma única maneira de criar um ambiente educacional excelente. Então, o que eu estava vendo e sentindo que sugeria que eu estava observando um ambiente educacional excelente?

Felizmente encontrei uma resposta no trabalho de Parker J. Palmer, um educador e ativista de longa data. Palmer faz esta declaração profunda em seu livro To Know as We Are Known (Para Conhecer como Somos Conhecidos): “O professor que conhece bem o assunto deve apresentá-lo aos alunos da mesma forma que apresentaria um amigo.”[1]

Foi então que eu disse: “Aha! Faz sentido!” Aqui estava uma declaração em torno da qual eu poderia articular minha compreensão do ensino excelente. Ensinar tem tudo a ver com relacionamentos. Observar as relações entre o professor, os alunos e a matéria trouxe grande clareza ao que eu estava vendo e sentindo em salas de aula excelentes. Comecei a rabiscar triângulos para visualizar as relações entre professores, alunos e disciplinas. Entrei nas salas de aula olhando através das lentes desses triângulos, testando para ver se eles conseguiam explicar o que eu estava observando. Depois de muitos anos, ainda desenho esses triângulos e descubro que, sim, eles podem reunir os elementos mais importantes de uma prática de ensino excelente. Nesta estrutura simples, existem três personagens específicos e três relações específicas entre esses personagens.

Os alunos, o professor e a disciplina são os três personagens principais. Embora possamos reservar um tempo para discutir cada personagem, neste artigo examinaremos especificamente os três relacionamentos entre eles. Todos os três desempenham um papel significativo no ensino de qualidade. Enfatizar apenas um desses relacionamentos e ignorar outro não levará a um ensino de qualidade. Vamos analisar este triângulo de relações juntamente com a metáfora de trens, ilustrando os perigos de enfatizar demais qualquer relacionamento.

A Relação Professor-Disciplina

É extremamente importante que o professor conheça bem a matéria. Sabemos que um professor precisa ter um bom domínio do assunto para ser um guia devidamente preparado para os alunos. No entanto, também sabemos que nem sempre temos o privilégio de fornecer aos alunos um professor especialista no assunto. Em muitos casos, o professor pode estar fazendo o possível para estar um passo à frente dos alunos no conhecimento do assunto. No entanto, sejam especialistas ou não, não queremos enganar ou ensinar mal os alunos.

Apesar de ser crucial, a relação professor-disciplina não é tudo. Uma ênfase exagerada nessa relação pode ser como um trem saindo de uma estação na hora certa, chegando na próxima estação na hora certa, mas sem nenhum passageiro a bordo. O maquinista (professor) chegou pontualmente ao destino correto, mas os passageiros (alunos) já haviam desembarcado no meio do caminho. Se nos concentrarmos na matéria sem construir um relacionamento com os alunos, eles se desligarão do aprendizado.

A Relação Professor-Aluno

Este relacionamento é a base sobre a qual todo ensino excelente de fato se desenvolve. Embora os professores devam conhecer bem a sua matéria, eles devem conhecer seus alunos ainda melhor. Os alunos precisam saber que seus professores estão interessados ​​neles, cuidam deles, os conhecem e cuidarão bem deles. Um ensino excelente significa que o professor conhece bem os alunos, os alunos conhecem bem o professor e existe um nível real de confiança em todos os aspectos. Sem um relacionamento forte e afetuoso, o professor terá muito mais dificuldade em envolver os alunos no conteúdo.

Ainda assim, uma ênfase exagerada no relacionamento professor-aluno pode ser como os passeios de trem na Disney World. Eles são muito divertidos, mas dão voltas e mais voltas sem nunca chegar a lugar nenhum. O objetivo principal do ensino foi esquecido. Não podemos nos concentrar na relação professor-aluno, e negligenciarmos o conteúdo.

A Relação Aluno-Matéria

O objetivo final do nosso trabalho é construir uma relação tão forte quanto possível entre o aluno e a matéria. Quando conhecemos nossos alunos bem o suficiente para compreender o nível de relacionamento que eles têm com o conteúdo, podemos projetar experiências de aprendizagem que lhes permitirão encarar novos desafios sem desanimá-los. É aqui que ocorrem avaliações precisas e aulas envolventes. Em última análise, um ensino de qualidade ocorre quando os alunos desenvolvem relacionamentos fortes com a matéria.

Uma ênfase exagerada na relação aluno-matéria, no entanto, pode ser como um velho trem a vapor, onde os alunos trabalham tão arduamente para alimentar a fornalha com carvão ou madeira que nem mesmo percebem que fazem parte de uma amorosa comunidade de aprendizagem. É importante lembrar que ensinamos o aluno de forma integral e que a aprendizagem dos alunos acontece em uma experiência comunitária.

Trens na Índia — As Três Relações

Minha família e eu passamos um ano na Índia e fiquei muito impressionado com o sistema ferroviário deles. Eles estavam muito orgulhosos da pontualidade do sistema: os trens saíam e chegavam no horário. Ainda mais notável, tivemos várias viagens em que havia mais pessoas no trem no final da viagem (mesmo sem paradas!) do que havia no início. Esta é uma imagem maravilhosa de um ensino excelente. O professor conhece bem o destino (a matéria), tem um ótimo relacionamento com os passageiros (alunos) e, com maestria, constrói novas relações entre os alunos e o conteúdo. O trem do aprendizado chega à estação pretendida cheio de passageiros que fizeram uma ótima viagem!

Ao planejar as suas aulas e procurar fazer com que seus alunos se tornem tudo o que Deus planejou para eles, pense em como você pode promover um ensino excelente, fortalecendo esses relacionamentos.




Randy Dueck
Consultor Educacional
TeachBeyond Global

Trad. Raphael A. Haeuser


[1] PALMER, Parker J. To Know as We Are Known: Education as a Spiritual Journey. HarperCollins, 1993.

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