Como Ensinar Quando o Ensino Perde a Relevância

educação em momentos de crise

Não é segredo para o educador brasileiro que as crises existentes no período pré-covid se aprofundaram durante a pandemia e nestes anos subsequentes. Algumas instituições foram mais felizes que outras no processo de entender o momento e instrumentalizar os profissionais, mas todas, sem exceção, tiveram o desafio de trabalhar com um aluno desgastado pela situação (e muitos, pelo luto) que raramente via sentido ou alegria na descoberta do aprender.

Somado a isso, os desafios locais e as dificuldades específicas de cada turma contribuem para percebermos uma amplitude maior da crise na educação. O que fazer enquanto agente transformacional do Reino neste cenário?

Antes de relembrar alguns aspectos do nosso fazer, é importante estabelecer um marco inicial: o conteúdo é uma parte daquilo que ensinamos, seja de qual nível educacional se estiver falando. Como professores e profissionais da educação, sabemos disso e procuramos fazer nosso melhor em relação a tudo o que a educação envolve. No entanto, as pressões relacionadas a prazos, referendos nacionais, bases curriculares, índices de desempenho do estudante e o dia a dia corrido de muitas horas-aula ministradas podem facilmente tirar nossas forças — e o olhar de “tarefa bem cumprida” ser mediado unicamente pela qualidade na transmissão do conteúdo.

Além do conteúdo, contribuímos no gerenciamento de tarefas do estudante, na melhor compreensão de suas emoções, no entendimento e aplicação de valores morais, no polimento de bons comportamentos segundo a especificidade de cada aluno (e não apenas do bom andamento da aula), no processamento de reflexões vindas com o aprendizado. Muitos são os ensinamentos associados ao fazer do professor que não estão condicionados ao conteúdo da disciplina e talvez, sejam justamente estes (e outros mais!) que mais sejam relevantes em momentos de crise.

Momentos de crise apontam para algo além de nós mesmos. Se na circunstância da crise somos levados a olhar para nossas incapacidades como profissionais e aprendizes, enxergando através dela, podemos perceber o quanto devemos ser dependentes de Deus, inclusive nas áreas de nossas vidas que julgamos ter mais suficiência ou domínio. É o Senhor o principal agente de transformação e sendo assim, Ele mesmo nos conferiu capacidades de aprender e continuar aprendendo ao longo da vida, se reinventando, aprimorando metodologias, vendo novas formas de fazer coisas que já fazemos há muito tempo. Esse mesmo Senhor é o mestre maior da didática: ver o tratamento pessoal que dá aos Seus filhos nos inspira a receber dEle essa capacitação para contribuir na vida de nossos estudantes. Da mesma forma, a crise é uma oportunidade de trazer esta noção para o chão da sala. É um momento de encaminhar o aluno para uma visão de mundo que não está centrada no “eu” e que pode ser bem mais que isso!

Momentos de crise pedem consolo e encorajamento. Quando os alunos sentem dificuldade de absorver o conteúdo por estarem atentos a outras circunstâncias, um caminho possível é juntar temas relacionados à disciplina com aplicações para a realidade vivida. Professores são mestres em fazê-lo! Uma dose adicional de consolo e encorajamento vai muito bem aqui. O desânimo que um aluno sente, uma baixa nas notas, sono constante e uma turma que não coopera nas atividades podem ser transformados com diálogos de compreensão e engajamento mútuo. O encorajamento não segue uma linha escapista, de um otimismo fora da realidade, mas aponta para Aquele que está conosco em todas as circunstâncias e que nunca vai nos abandonar.

Momentos de crise oportunizam amadurecimento. A contribuição na formação do caráter é uma das coisas mais preciosas que um estudante pode levar do contato com seu mestre. A crise também é uma fase de aprimorar questões, debates, reflexões e processamentos que não surgem na rotina comum. Como agiram os seres humanos em momentos semelhantes a estes na história? Quais circunstâncias políticas e econômicas vieram de um momento de crise? Como a ciência, a arte e a língua de um povo foram afetados em situações assim? Quais foram as condições tecnológicas que impediram ou propiciaram determinadas fases críticas? Além do processamento envolvendo as disciplinas ministradas, questões morais e éticas pessoais também têm lugar aqui, de forma que o aluno pode tanto ser levado a repensar suas atitudes, quanto ver um exemplo no professor de comportamento e fé firmes, de modo que isso aponte para Jesus.

Finalmente, é preciso considerar que o modo de colocar essas ações em prática deve ser acompanhado por honestidade, profundidade adequada à faixa etária e por uma esperança firmada no Salvador. Conduzir a sala de aula de forma sábia faz parte do viver sábio que as Escrituras tanto nos mostram e que nossos alunos tanto precisam, seja em momentos de crise, seja em fases de prosperidade. Nossa garantia como cristãos é que a esperança não nos decepciona (Rm 5:5) e podemos ser renovados em nossos desafios diários com esta confiança no Pai. A sala de aula verá isso. Com a ministração do conteúdo, com diálogos abertos e encorajadores, com o olhar apontado para os céus… eles verão algo sobre a esperança que nos move.

Joyce Melo
Equipe Didaquê
TeachBeyond Brasil

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