5 Atitudes para uma Boa Cidadania Digital

Um dos principais propósitos da educação é educar para a cidadania. Em uma era em que quase não experimentamos mais o mundo através das interações face-a-face, mas sim através das diversas mídias, é essencial também sermos bons cidadãos digitais. 

De acordo com IBGE, a população brasileira está cada vez mais conectada com 82,7% dos domicílios tendo acesso a internet. A pesquisa também constatou que estudantes a usam mais que não-estudantes, e que alunos da rede privada tem mais acesso (98,4%) do que os da rede pública (83,3%). Na média, isso significa que 9 de cada 10 dos nosso alunos estão no mundo virtual, ainda que seja apenas através do celular.[1]

Se cada vez mais estamos usando a internet para estudar, trabalhar e fazer coisas corriqueiras como uma compra ou mandar aquele bom dia a um amigo, é cada vez mais importante saber como se portar neste universo e ajudar nossos alunos a fazerem o mesmo.

Uma organização que visa capacitar educadores a domarem a tecnologia para acelerar o processo de ensino-aprendizagem e inspirar os educandos a alcançarem o seu maior potencial é a ISTE — International Society for Technology in Education (Sociedade Internacional para Tecnologia na Educação). Ela desenvolveu uma série de padrões que tratam sobre como aprender, ensinar e liderar na era digital.

Um desses padrões é a cidadania digital, definida como “reconhecer os direitos, responsabilidades e oportunidades de viver, aprender e trabalhar em um ambiente digital e interconectado, agindo de forma segura, legal e ética.”[2] Mas como podemos ensinar nossos alunos a usarem seus dispositivos eletrônicos e a navegarem no universo virtual de forma responsável?

1. Entenda os “bastidores”

Talvez o primeiro passo para desenvolver a cidadania digital seja assistir e processar o documentário da Netflix, O Dilema das Redes.[3] Embora o documentário reconheça os benefícios trazidos pelas redes sociais, seu propósito maior é alertar contra os seus perigos. Ele destaca que tudo, absolutamente tudo, o que fazemos no universo virtual é rastreado, de modo que as grandes empresas de tecnologia sabem praticamente tudo sobre nós. Com esse conhecimento, elas direcionam as propagandas de quem pagar mais para aquelas pessoas que têm mais probabilidade de clicar ou comprar.

Os feeds de notícias são individualizados para cada um de nós através de algoritmos executados por Inteligências Artificiais, dizendo-nos “exatamente o que queremos ouvir”. A sua intenção é fazer que gastemos mais tempo nas redes sociais e façamos mais conexões (amizades, seguidores), para que essas empresas possam nos conhecer cada vez melhor e assim fazer com que gastemos mais dinheiro nos produtos anunciados. 

Além disso, a experiência de refresh ou atualizar o nosso feed é semelhante a de um caça-níquel, em que ficamos na expectativa de ganhar o grande prêmio de alguém dar um like na nossa foto, o que pode se tornar em uma dependência ou vício.

Por essas razões, os especialistas no documentário recomendam que:

  • não se use o celular nos 30 minutos antes de dormir, e muito menos que você o leve para o seu quarto. (Se você precisa de um despertador, passe no “um e noventa e nove” mais próximo).
  • menores de 16 anos evitem usar as redes sociais, pois eles são mais facilmente impressionáveis e se distraem com facilidade dos estudos, que nessa idade está lançando os fundamentos para restante da sua vida acadêmica e profissional.
  • tenhamos um “orçamento” ou limite de tempo que queremos gastar nas redes sociais, para que não sejamos engolidos por elas.

2. Tenha Empatia

A fé cristã reconhece a ambiguidade do desenvolvimento científico e tecnológico. Assim, como uma faca pode ser usada para passar manteiga no seu pão ou esfaquear alguém, a vida online traz consigo seus benefícios e malefícios. Embora a Bíblia não diga nada explícito sobre a internet e as redes sociais, ela ainda é muito preciosa.

A comunicação nas redes sociais ainda ocorre principalmente por textos escritos, e não temos como ouvir o tom da voz, ver a expressão facial e os demais aspectos da linguagem não verbal. O potencial para mal entendidos em mensagens instantâneas ou na seção de comentários é imenso. Além disso, o ambiente virtual nos dá uma coragem que provavelmente não teríamos numa conversa face a face, o que facilita abandonarmos nossos filtros e seremos mais agressivos do que seríamos normalmente.

Talvez o princípio bíblico mais crucial nessa hora seja o da empatia. Não se trata de um sentimentalismo barato, mas de um princípio ensinado por Jesus: “Façam aos outros o que vocês querem que eles façam a vocês.” (Mt 7:12) Não conheço ninguém que quer ser ridiculizado, agredido, ou julgado sem ter sido verdadeiramente ouvido, mas é assim que muitas vezes nós agimos para com o nosso próximo.

Precisamos refletir e ensinar nossos educandos a refletirem antes de postarem, comentarem ou compartilharem algo. Será que eu gostaria que dissessem tal coisa sobre mim e sobre o que é importante para mim? Será que eu gostaria de ser tratado dessa forma?

3. Não acredite, nem espalhe “fake news”

Por um lado, as fake news nada mais são do que mentiras e isso deveria ser suficiente para impedir qualquer pessoa de se engajar nessa atividade. A fé cristã sempre se posicionou ao lado da verdade, pois reconhece que a mentira é escravizante e danosa para todos. É por isso que os Dez Mandamentos nos orientam a não dar falso testemunho contra o nosso próximo (Ex 20:16) e o Novo Testamento nos orienta a “abandonar a mentira” (Ef 5:25).

Por outro, as fake news têm características tão diferenciadas e impactos tão profundos na nossa convivência que merecem uma categoria a parte. As fake news são notícias falsas ou tendenciosas produzidas com a intenção de manipular a percepção da realidade a fim de privilegiar ou prejudicar determinada causa ou linha de pensamento político, social ou religioso.[4]

Como toda boa mentira, as fake news muitas vezes argumentam a partir de meias verdades e frases fora de contexto, e outras tantas vezes associa as suas informações a instituições e autoridades conhecidas para aumentar a credibilidade da desinformação.

Como cristãos, não podemos nos permitir ser manipulados por esse tipo de conteúdo. Não podemos acreditar e espalhar falsidades, e depois dizer ingenuamente “Eu não sabia.” Também não podemos ser seduzidos pelo aparente ganho pragmático que tais notícias falsas possam trazer para a causa que defendemos. Afinal, causas verdadeiramente nobres não necessitam de falsidades para prevalecerem.

Como educadores, precisamos ensinar nossos alunos a terem o mesmo discernimento, a verificarem as informações em livros ou sites confiáveis, e principalmente a não serem precipitados em acreditar e espalhar informações não verificadas.

4. Não morda a isca

O termo clickbait vem da junção de duas palavras inglesas: click que significa ‘clicar’ ou ‘apertar’ e bait, ‘isca’, aquela minhoca que colocamos no anzol para fisgar o peixe desavisado. Essa palavra vem sendo usada para se referir a qualquer texto, manchete, ou título de texto/vídeo que é escrito de forma sensacionalista com a intenção de despertar o nosso interesse e levar-nos a clicar. É uma estratégia comum de sites mal-intencionados que desejam infectar nossos dispositivos com vírus. Outro uso típico do clickbait é direcionar o leitor às fake news.

O mais indicado é não clicar em links com esse tipo de apelo ou que ascendam seu senso de indignação. Quanto mais você clicar em um título clickbait, mais links desse tipo o algoritmo da sua rede social vai lhe sugerir e indicar aos seus amigos. E quanto mais lemos fake news parecidas, mais verdadeiras elas nos parecem, e assim pouco a pouco as redes sociais moldam o nosso comportamento e percepção da realidade. Como educador, pratique e ensine esses princípios.

5. Respeite a propriedade intelectual

Na era digital, é muito fácil para educadores e alunos simplesmente pegarem o que precisam do Google e usá-las. É claro que muitas coisas são gratuitas e que muitas vezes não usamos essas diretamente; nós as adaptamos ou nos inspiramos nelas. Não há problema nisso, mas é sempre bom citarmos as nossas fontes. Além de dar o crédito a quem merece, também estamos modelando uma postura acadêmica correta para os nossos alunos. Isso nada mais é do que aplicação de conceitos bíblicos simples como “não furtarás” (Ex 20:15) e a obrigação de darmos honra a quem ela é devida (Rm 13:7).

Talvez o principal problema educacional nessa área seja o bem-conhecido “control-C, control-V” tão comum nos trabalhos escolares. Isso é plágio e não pode ser tolerado devido à sua evidente falta de ética e dano ao próprio desenvolvimento do aluno e da sociedade. Não queremos produzir cidadãos e trabalhadores anti-éticos que não têm o conhecimento e a competência que o diploma escolar diz que têm.

De acordo com a Liberty University, uma universidade cristã nos Estados Unidos, plagiar inclui: não usar aspas nas citações, parafrasear material sem indicar a origem, comprar ou pedir para outra pessoa fazer o seu trabalho escolar, usar o mesmo trabalho para disciplinas diferentes. Na primeira incidência, o estudante tem o “benefício da dúvida” e pode refazer o trabalho, mas valendo menos nota. Na segunda incidência, o aluno zera, sem a possibilidade de refazer a tarefa. Na terceira, ele é reprovado naquela disciplina.[5]

Muito mais poderia ser dito sobre esse tema, mas isso é suficiente para darmos início à conversa. A educação visa formar bons cidadãos, até mesmo no ambiente virtual. Um bom cidadão digital é aquele que entende como a internet e as redes sociais funcionam, é aquele que interage com respeito e empatia com aqueles concordam e discordam do seu ponto de vista, é aquele que sabe discernir fake news e resistir a tentação de manchetes clickbait, é aquele que respeita o esforço, as ideias e a propriedade intelectual dos outros. Que possamos modelar e ensinar o uso responsável da tecnologia!




Raphael A. Haeuser
Coordenador do Didaquê
TeachBeyond Brasil

[1] https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2021/abril/pesquisa-mostra-que-82-7-dos-domicilios-brasileiros-tem-acesso-a-internet. Acesso em 02/02/2021.

[2] https://www.iste.org/standards/iste-standards-for-students.Acesso em 02/02/2021.

[3] ORLOWSKI, Jeff, dir. O Dilema das Redes. Produzido por Exposure Labs, Argent Pictures, e The Space Program, 2020. https://www.netflix.com/watch/81254224

[4] Definição pessoal a partir de leitura de várias fontes, como:

[5] https://wiki.os.liberty.edu/display/OPO/Plagiarism+Guidelines


Fotos: (1) Netflix; e (2) Firmbee.com no site Unsplash.

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