Como ser um Educador que Contribui para o Sucesso do Aluno

“Faça boas escolhas!” “Seja bonzinho hoje!” “Nós não vamos ter um animal de estimação até que você possa ser responsável por ele” “Você escolheu _____, agora lide com as consequências”.

Se você é como eu, leu as declarações acima com um leve estremecimento, lembrando daqueles momentos da infância em que nossos pais ou outros responsáveis nos chamaram para sermos melhores versões de nós mesmos, para agir com maturidade, para sermos mais responsáveis. Talvez você tenha sido a criança que se esforçou para atender ou exceder todas as expectativas deles; ou talvez você tenha suspirado e, com um rolar de olhos, desejou que os adultos fossem um pouco mais divertidos.

Você pode se deparar com esse problema também na sua sala de aula. Ao instruir seus alunos a concluir certas tarefas, dentro de certos parâmetros, dando uma determinada data para entregar, ao ensinar regras de etiqueta em sala de aula – sem conversinhas depois que o sinal toca, telefones celulares desligados e guardados na mochila, ao dizer: “não mastigue de boca aberta”, você está tentando criar limites para um ambiente seguro e que seja propício ao aprendizado.

Mas pode também estar tentando atender às expectativas acadêmicas de sua escola e seus requisitos para ganhar créditos escolares. Você está tentando ser um bom professor – e, no entanto, todos os anos, você se vê diante daquela curva de envolvimento dos alunos, com uma pequena porção deles extrapolando todas as expectativas, outro pequeno grupo de alunos que parecem estar em busca do fracasso e um grupo considerável flutuando em algum lugar no meio desses outros dois. 

Vamos começar essa discussão dando uma olhada rápida no nosso vocabulário. O que queremos dizer quando dizemos que alunos são “bons” ou “ruins”? Estamos fazendo uma declaração moral sobre o caráter de alguém? Não, claro que não. Acreditamos que nossos alunos são preciosos portadores da imagem de Deus. Deus proclamou na criação que somos muito bons. Podemos estragar tudo, mas ainda somos Sua preciosa e valiosa criação. Então, vamos erradicar essa conversa de “bom” e “ruim” de nossos vocabulários quando falamos sobre nossos alunos. Muitas vezes, quando procuramos sinônimos, percebemos que, quando descrevemos um aluno como sendo bom, o que realmente queremos dizer é que eles são eficientes, pontuais, respeitosos, estudiosos e, sinceramente, não tornam nossa vida de educadores mais difícil.

O que fazemos, então, com nossos alunos que não podem ser descritos por esses adjetivos? Faça uma busca rápida em seu coração – mesmo que você não diga isso em voz alta, você acha que certos alunos são ruins? Vamos nos esforçar para tirar esse tipo de linguagem do nosso vocabulário. Pode ser mais correto dizer que estamos frustrados com sua falta de iniciativa, sua irresponsabilidade ou desrespeito, etc., e que não vemos neles o desejo de mudar. Vamos usar esse reconhecimento para orar (ainda mais) por sua transformação pelo poder do Espírito Santo.

Agora, vamos pensar em nossos alunos que não estão cumprindo prazos, mantendo-se organizados, seguindo as regras da sala de aula ou atendendo às expectativas. Muitas vezes, com um pouco de investigação, podemos dar algum sentido a essas situações.

Primeiro, procuramos identificar as barreiras. As barreiras podem ser óbvias ou invisíveis. Eles podem incluir uma incapacidade de ver a escrita no quadro branco, dificuldade com o idioma, dificuldade de aprendizagem ou até mesmo fome. Uma colega me contou uma vez sobre um aluno da primeira série que não conseguia parar quieto na cadeira durante a aula, até que ela percebeu que o aluno estava usando um tênis apertado demais para os seus pés. O aluno nem tinha percebido que eles eram muito pequenos para ele até que minha colega verificou. Eu tive uma aluna do ensino médio que ficava muito desatenta em suas aulas; numerosos professores apontaram isso também, repreendendo-a por “sonhar acordada” e adormecer na sala de aula. Esta estudante revelou mais tarde que tinha sido agredida sexualmente durante o fim de semana; ela lidou com dissociação e estava em necessidade crítica de ajuda e compreensão dos funcionários da escola. 

O trauma pode ser uma barreira significativa para a aprendizagem. Alguns alunos experimentam barreiras emocionais; por exemplo, ter dificuldade com uma matéria é igual a “ser ruim” nisso (olha só essa linguagem novamente!), equivalendo a fracasso e decepção. Isso é intolerável e precisa ser evitado. O que seria infinitamente melhor seria incutir em nossos alunos a ideia de que a escola é um lugar onde o aprendizado acontece antes que aquilo de “ser perito no assunto” seja alcançado. A lição aqui é dar aos alunos o benefício da dúvida; vamos manter a mente aberta até descobrirmos se algo específico está acontecendo.

Segundo, buscamos compreender a motivação desse aluno. Pode não ser equações quadráticas, é verdade, mas vamos descobrir qual é a sua “moeda de troca”. Muitos alunos de todas as séries são motivados por reconhecimento, elogios, consideração positiva e algumas risadas (mesmo no meio da aula). Os alunos podem estar tendo certas aulas para agradar seus pais ou para entrar em uma universidade de prestígio. Eles podem se sentir muito desmotivados pelos professores, mas são altamente motivados a manter suas notas para permanecer no time de futebol de onde estudam. Tudo isso pode ser aproveitado e pode ser feito de uma maneira que permita ao aluno manter sua dignidade. Tenha conversas abertas e que incitem a curiosidade dos seus alunos mais velhos sobre isso. Mantenha as conversas livres de julgamento; não brinque com a falta de proeza acadêmica. Explique: “Nem todos os alunos amam esse assunto, e tudo bem. Vamos descobrir por que você está fazendo essa aula e o que você precisa fazer para se livrar dela.” Para muitos alunos, a conexão humana sempre será um motivador para permanecer envolvido. Uma vez observei um professor da 4ª série que criou um sinal de mão que os alunos poderiam usar sempre que se conectassem com algo que ele dissesse. Eles faziam um punho e apontavam o polegar para si mesmos e o dedo mindinho para o professor, movendo a mão para frente e para trás, sinalizando fisicamente que estavam fazendo uma conexão com algo que o professor estava dizendo. Os alunos poderiam usar o sinal a qualquer momento como uma forma de comunicar o engajamento sem palavras, para que o aprendizado não fosse interrompido.

Por último, considere o estágio de desenvolvimento dos seus alunos. Erikson [1] descreve que crianças de 5 a 12 anos estão buscando um senso de competência em todos os sentidos da palavra, querendo se sentir capazes de tanto ter amigos como ser um estudante (muito provavelmente nessa ordem). Este é um momento privilegiado para os educadores incutirem nos alunos a virtude da aprendizagem em oposição aquela ideia de que precisam ser experts em tudo. E Piaget[2] quer que nos lembremos de que esses alunos mais jovens são naturalmente muito egocêntricos e que buscam coisas concretas. Eles vão precisar de você para orientá-los para falarem positivamente sobre temas como fracasso, aprendizagem e autoestima.

Dos 12 a 18 anos, Erikson nos diz que nossos alunos estão preocupados principalmente com seu senso de identidade e de pertencimento. Eles querem saber quem são e onde pertencem, e não preciso dizer que isso pode ser mais complexo para nossas “crianças de terceira cultura”. Os alunos podem fazer grandes esforços para experimentar e afirmar quem eles são de verdade. Se um aluno está distraindo os outros na sala de aula, uma grande ajuda a você seria respirar fundo e lembrar a si mesmo: “Isso não é pessoal; é uma fase de desenvolvimento”. Você ainda pode ter expectativas em sala de aula, mas esse lembrete pode nos ajudar a nos acalmar antes de darmos um redirecionamento.

Em todas as coisas, procuramos defender os valores e a dignidade. Utilizamos limites e horários de sala de aula como ferramentas para nos manter em movimento através do material de forma ordenada. Valorizamos um ambiente de aprendizagem seguro e estimulante. Fazemos isso enquanto investigamos os limites de cada aluno, aproveitando suas motivações e lembrando seu estágio de desenvolvimento. Nós nos esforçamos para ensinar e lembrar nossos alunos do seu valor independentemente das suas conquistas e da sua dignidade independentemente das suas habilidades ou comportamento. E, muitas vezes, faríamos bem em nos lembrar dessas verdades, mesmo quando as ensinamos aos nossos alunos. 


Sarah Fine
Voluntária da TeachBeyond Global

Sarah é assistente social e já atuou com capelania escolar através da TeachBeyond.

Texto original em https://www2.teachbeyond.org/article/equipping-ourselves-to-help-students-succeed

Trad. Davi Guerreiro Farias

[1] Adaptado de https://www.simplypsychology.org/Erik-Erikson.html.

[2] Adaptado de https://discoverearlychildhoodedu.org/resources/teaching-styles/piagets-stages-development/#four_stages

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